A divulgação da exortação apostólica “Querida Amazônia”, escrita pelo papa Francisco, foi alvo de críticas de diversos setores da sociedade. O sumo pontífice deixou de lado a proposta mais polêmica do Sínodo da Amazônia, no ano passado, que defendia a ordenação de homens casados como sacerdotes no território amazônico. Francisco deixou claro que prefere missionários para evangelizar as populações dessa região.
A discussão sobre a queda do celibato ganha cada vez mais interlocutores. Na Alemanha, por exemplo, parte dos bispos defende que a regra seja excluída. É bom lembrar que por mil anos os padres podiam se casar. E temos outros mil anos sem padres casados na Igreja Católica. Essa não é uma questão dogmática, de fé, como, por exemplo, a ressurreição de Cristo, a virgindade de Maria e a presença de Jesus na Eucaristia.
Discutir uma regra milenar é um grande desafio. Mas é bom entender que, independentemente de você ser a favor ou contra o celibato para os padres, Francisco tomou a decisão mais óbvia e segura que tinha nas mãos. Em tempos de intolerância, manter a unidade na Igreja parece ser a melhor escolha.
Admitir que padres possam casar apenas na Amazônia causaria um efeito cascata, com pedidos de liberação em outras partes do mundo. Isso daria razão ao proclamado Sínodo dos alemães, que querem discutir essa questão, mas já foram confrontados pelo Vaticano de que decisões que envolvam o celibato pertencem a toda a Igreja. Ultraconservadores encaravam um cisma como possibilidade real.
Francisco mantém interesse na evangelização na Amazônia, assim como na maior proteção da floresta. A ideia de enviar missionários não é nova, mas ganha uma dimensão diferente na exortação do papa. Imagine que cada diocese no Brasil enviasse um padre para a Amazônia. Certamente, as comunidades teriam mais missas e não apenas um ou duas por ano. Essa realidade pode ser diferente e depende de empenho de toda a Igreja.
A questão do fim da obrigatoriedade do celibato deve vir à tona em outro momento. Na Europa, há paróquias em que os padres são chamados mais vezes no ano para rezar em velórios do que celebrar batizados. Se houver uma queda brusca nas vocações sacerdotais, é provável que o mecanismo seja utilizado. Por enquanto, não há chance de isso ocorrer.