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“Castrar é um ato de amor”, explica a médica veterinária Daniela Souza

médica veterinária Daniela Souza
Foto: Eurico Cruz
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Conhecida por seu trabalho social na cidade, a doutora Daniela conversou com o GRU Diário sobre a importância da castração para a saúde dos animais

Decidir adotar um animal pode parecer uma decisão fácil, mas, em entrevista ao GRU Diário, a médica veterinária Daniela Souza (@dra_danielasouza), proprietária da clínica e do Pet Shop Kilocão (@clinicapetkilocao), conhecida por seu trabalho social na cidade, principalmente com foco na castração, ressaltou que o pet não pode ser tratado como um objeto e que é preciso pensar em dar uma vida digna aos bichinhos.

Com 18 anos de experiência na área, especializada em fisioterapia e ortopedia, diagnóstico por imagem e pós-graduanda em cirurgias de tecidos moles, a doutora conversou com a reportagem sobre a importância da castração e os cuidados necessários antes e depois da cirurgia, além de outros pontos de atenção necessários ao pet.

De acordo com a doutora, a castração não somente evita a cria indesejada, já que seis de cada 10 animais domésticos não terão um lar, como também previne que os animais, seja cão, gato ou coelho, tenham complicações no final de sua vida. Claro que com o fim do cio, a tendência é que a relação entre tutor e pet também seja mais calma.

Na entrevista, a doutora estava acompanhada do Tuco, um gatinho que se tornou um dos mascotes da clínica dela.

Abaixo você consegue acompanhar a entrevista em vídeo e a decupagem da entrevista em texto

Por que a castração é tão importante para o animal doméstico?

A castração, a gente costuma falar que castrar é um ato de amor. Primeiro, porque hoje, infelizmente, nós temos uma realidade muito triste que é o abandono dos animais, maus-tratos. Então a castração faz com que se diminua a quantidade de animais errantes, animais que possam vir a ter problemas com maus-tratos e abandono. Existe uma estatística de que a cada dez animais que nascem seis não conhecerão o que é um lar.

Então o primeiro benefício da castração é esse. O segundo benefício, claro, é para a saúde do animal. Quando a gente castra antes do primeiro cio ou entre o primeiro e o terceiro cio a gente diminui para quase zero, por exemplo, a probabilidade de uma fêmea ter tumor de mama, infecção no útero, infecção no ovário, que são problemas decorrentes do cio, problemas hormonais que podem acontecer principalmente no final da vida do animal.

No caso do cão macho o maior problema é realmente o tumor de próstata e o tumor de testículo, além de demarcação de território. A demarcação de território, de fazer xixi em tudo quanto é lugar, de levantar a pata em tudo quanto que é lugar para demarcar território diminui bastante após a castração, que só traz benefícios e principalmente uma boa convivência com o seu tutor.

Todo animal doméstico é passivo de castração? Cão, Gato, outros animais domésticos?

Sim. Cão, gato, coelhos também. Inclusive coelho é muito passível de abandono. As coelhas também têm infecções no útero, que é a piometra, e podem desenvolver tumor de mama, então a castração é importantíssima. E nos machos também, o territorialismo, tanto nos machos quanto nas fêmeas, eles começam a fazer xixi em lugares que eles já não estavam mais acostumados a fazer como quando eram filhotes. Então é importante também a castração em coelhos porque eles começam a atacar os próprios donos muitas vezes por territorialismo. Então, mais uma vez pelo benefício da ótima convivência com o tutor é importante também a castração dos coelhos.

Existe uma diferença muito grande entre a castração do macho e da fêmea?

Existe. Na verdade a cadela é um pouquinho mais complicada do que os outros porque além de você ter de acessar o abdômen para poder retirar o útero e ovário, muitas vezes a cadela é um animal grande, obeso, e tudo isso dificulta o processo da cirurgia, o transoperatório que a gente fala. A gata já é bem mais fácil. O cão. São procedimentos relativamente mais simples e de recuperação mais simples também. O que diferencia muitas vezes é o tipo da anestesia. A anestesia inalatória é o que a gente tem hoje de mais seguro, é o que a gente tem de melhor para oferecer na medicina veterinária hoje em dia para os nossos animais e é o mais indicado. Existe sim o processo de anestesia injetável para poder fazer a cirurgia e isso consegue baratear o custo. As duas técnicas são seguras, o que acontece realmente é que a anestesia inalatória é o que a gente tem de mais novo, mais moderno.

O que uma pessoa deve levar em conta na hora de procurar uma clínica para fazer a castração do seu animal?

Principalmente a confiança. É ter a certeza de que o profissional está capacitado, gabaritado para fazer o procedimento cirúrgico. Saber se a clínica é realmente idônea, se a clínica faz o procedimento com tudo esterilizado, tudo como deve ser. O primeiro passo é a confiança no profissional. É preciso pegar recomendação de outras pessoas que fizeram aquele procedimento naquele local.

Quais os principais cuidados que se deve ter com o animal após a castração?

Os cuidados principais: a gente tem que pensar que eles não raciocinam, então o que estiver incomodando eles vão tentar tirar. Então os pontos são uma forma de incômodo, principalmente quando está cicatrizando vão coçar e quem fez uma cirurgia sabe disso. O principal cuidado mesmo é colocar a roupinha ou o colar elizabetano, que é um colar que parece um abajur para que evite de o animal lamber, de o animal retirar os pontos, porque aí a gente começa a ter problemas pós-operatórios de abrir ponto. É preciso tomar este tipo de cuidado. São 10 a 15 dias de cuidado e depois é vida normal, vida feliz com eles.

A alimentação do animal muda após a castração?

Hoje a gente tem no mercado rações específicas para animais castrados, principalmente para gatos. A gente sempre pede que seja uma alimentação voltada para animais castrados porque estas rações possuem menos calorias. O animal castrado ele tende a ficar menos agitado e isso faz com que eles precisem da ingestão de menos calorias e essas rações impedem que eles se tornem obesos, que eles se tornem gordinhos, que isso também não faz bem para a saúde deles. A obesidade é um fator de risco para o animal.

O que mais muda no comportamento do animal castrado? No caso de uma gata, por exemplo, acabam-se os barulhos e miados constantes por causa do cio?

Não, não acontece mais. Uma fez que você retira a fonte de estímulo de hormônio que seria o ovário você não tem mais o cio. Então a pelagem do animal fica mais bonita, a queda de pêlos diminui, eles engordam um pouquinho mais. Diminui ou desaparece a marcação de território. As brigas entre machos, que é muito comum animais não castrados brigarem entre si, isso diminui. Eles ficam um pouquinho mais calmo, mas não muda a essência do animal. Às vezes a pessoa fala ‘eu gosto dele brincalhão e ele não vai ficar’, não, ele vai continuar brincalhão, o que muda realmente são alguns comportamentos, mas a essência dele, brincalhão e alegre, não muda.

Então se houver uma mudança drástica no comportamento do animal a pessoa deve procurar um veterinário?

Sim. Muitas vezes a pessoa fala: ‘Ah, ele está quietinho porque ele castrou e agora ele é assim’ e às vezes não, às vezes tá envolvido alguma patologia realmente e a gente tem de saber dividir isso aí. Ninguém melhor do que o próprio tutor para reconhecer o que é normal e o que não é normal no animal. Claro, no pós-cirúrgico, os dois, três primeiros dias o animal fica um pouco mais quietinho mesmo, mas a partir daí ele vai voltando ao normal e aos poucos retomando a vidinha normal dele. Alguns ainda ficam inibidos com a roupinha, com o colar, incomodam, não tem jeito, mas é para o bem deles. É uma coisa temporária. E quando tira eles voltam ao normal, vida normal.

Algumas vezes as pessoas ficam com dó e querem tirar a roupa e o colar após a cirurgia. Pode?

É totalmente contraindicado, tem que deixar 24 horas por dia. Tem gente que fala que o animal não está lambendo o ponto, mas não está lambendo enquanto ela está vendo. É importante usar. A gente recomenda e não é à toa. A gente precisa disso para ter um sucesso no pós-cirúrgico. É entender que vai passar. Os animais não entendem que eles não podem lamber, então a gente precisa limitar o movimento deles para que eles tenham uma boa recuperação para que nada dê errado e que realmente tenha sucesso todo o pós-cirúrgico.

Tem algum outro ponto, alguma resistência a castração que você gostaria de comentar?

As pessoas têm muita resistência ainda em castrar cães machos, principalmente quando tem homens. A fêmea, muitas vezes é mais fácil de convencer. A gente tem que pensar que o animal ele tem instintos, ele não tem vontades como o ser humano, então o animal só cruza devido à procriação. Tanto que a fêmea só aceita o macho na época do cio. Não existe outro tipo de relacionamento deles no pós-cio. O objetivo da cruza é a procriação. Tem animais que muitas vezes sobem nos tutores e fazem movimentos e muitas vezes isso não quer dizer que eles estão com vontade. Eles querem mostrar dominância para as pessoas. Nós, dentro de casa, somos uma matilha para eles. Então eles querem dominar esta matilha, isto é um instinto. Os cães machos têm problemas também de tumores de testículos, é muito triste. É preciso também conscientizar as pessoas de que a cria indesejada é um problema, principalmente para quem não está acostumado. Estes filhotes vão crescer, vão dar trabalho, vão dar gastos.

Além da castração, quais outros cuidados o dono do pet deve tomar cuidado ao longo da vida do animal?

Antes de adquirir qualquer animal a gente tem que pensar nos custos, porque é uma vida que vai depender de você por pelo menos aí 10 a 15 anos, a média de vida dos animais. Os principais cuidados são, ao menos uma vez no ano levar o animal no veterinário para fazer a vacinação, verificar se está tudo bem. Tudo que a gente previne o custo é bem menor. A prevenção com a vacina é extremamente importante. Dar uma ração de boa qualidade para que diminua o odor de fezes, diminua a queda de pelo. Tudo isso faz com que tenha uma boa convivência com seu tutor.

A partir dos 7 anos se intensificam os exames, pelo menos uma vez por ano é preciso fazer o exame de sangue, o exame cardiológico, para que o animal tenha também uma velhice digna.

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