Policiais utilizaram redes sociais para fazer o bem aos moradores do bairro
O que fazer quando a sua profissão exige que você tenha frieza para lidar com tragédias e, no meio do caminho, você se depara com uma situação que toca o fundo do seu coração? Foi numa dessas ocasiões que a Asp Of PM Larissa Aguiar e o Sd PM Jorge Alves se encontraram na madrugada de 4 de dezembro, ao atenderem uma ocorrência no Jardim Santo Afonso, em Guarulhos.
A viatura foi chamada na comunidade para resolver uma situação de violência doméstica. Chegando ao local, encontraram um cenário desesperador: na casa, uma mulher, sob efeito de entorpecentes, e bastante agressiva, de aproximadamente 40 anos, e seis dos seus mais de 10 filhos, com idades entre seis meses e 22 anos.
Na conversa com a mãe, ela contou que não queria mais os filhos. Um deles, pré-adolescente, inclusive, já tinha tentado tirar a própria vida. “Nos encontramos ali em uma situação muito difícil, vimos que não tinha base familiar alguma. Chamamos o Conselho Tutelar, porque não poderíamos deixá-los abandonados. As conselheiras explicaram que as irmãs mais velhas poderiam ficar com a guarda dos mais novos, mas a gente viu que elas não tinham condições financeiras para criar os irmãos”, contou Larissa, em entrevista ao GRU Diário.
Foi no meio de todo esse furacão que Jorge pensou em algum jeito de ajudar e possibilitar a continuidade daquelas crianças com sua família. Ele contou que o que mais mexeu com ele naquele momento foi lembrar do próprio filho, acolhido em casa. “Ver uma criança de sete anos, com lágrimas nos olhos, desabafando por temer o futuro, foi muito tocante para mim”, lembrou o policial.
Logo após o serviço, ele fez um vídeo e publicou nos status do WhatsApp, ainda que esperasse uma arrecadação mais tímida. “Um panetone, uma cesta, roupas usadas. Gravei o vídeo e esperei por um milagre”, falou Jorge.
“No meio do caminho, de volta para casa, eu quase retirei o vídeo. Deu um pouco de vergonha, porque pensei na atual conjuntura do país, do município, enfim. Está difícil para cuidar de si, imagina fazer doações”, disse. Só que em poucos minutos, milhares de mensagens de apoio e pedindo detalhes fizeram ressurgir a esperança no policial.
Logo em seguida, Larissa também resolveu utilizar seu Instagram para o bem. “A gente se sensibilizou muito e queria fazer algo para mudar a situação. Voltamos no local, conversamos com as irmãs e pedimos autorização para divulgar uma campanha. Foi uma repercussão enorme, de outro mundo. Tanto que fizemos apenas de 4 a 11 de dezembro, porque foram doados muitos itens”, destaca a policial.
Doações chegaram e aqueceram o coração das crianças
Entre as doações, cestas básicas, arroz, feijão, sal, óleo, bolachas, bolos, leites, achocolatados, produtos de higiene pessoal e de limpeza, roupas e brinquedos, além de dinheiro para auxiliar a família. “É uma comunidade muito carente. Tanto que quando chegamos e fomos doar, alguns formaram fila porque acharam que era campanha para todos que moram ali. A gente acaba sendo a esperança de muita gente e não podemos perder essa sensibilidade”, diz Larissa.
Um dos motivos de maior alegria para a policial foi em uma conversa com um dos pequenos, que contou que agora sonha em ser bombeiro. “É uma sensação de dever cumprido. Sair aplaudido de um local onde a PM normalmente não é bem recebida é motivo de muito orgulho”.
Soldado foi caminhoneiro durante dez anos
Um dos principais organizadores da ação no Jardim Santo Afonso, Jorge tem 29 anos e foi, durante dez anos, caminhoneiro. “Segui os passos do meu pai nessa carreira. Antes de começar o curso de formação de soldado, eu estava desempregado e fui levantar uma renda de motorista de aplicativo. Tanto no caminhão quanto no Uber, eu sempre procurei colocar um dedinho positivo na vida das pessoas para ajudar”, contou.
No vídeo em que pediu auxílio para a arrecadação, ele disse que costumava escolher um passageiro, pela necessidade, para fazer uma corrida gratuita quando era motorista de app. “A última delas foi até uma senhora, estava levando o filho no PS. Ele estava ardendo em febre e, no meio do caminho, ele falou ‘mãe, estou com fome’. E ela ficou quieta. Naquele dia eu pensei ‘o risóles eu vou salvar para ela’”.
Conheça os policiais que participaram da ação
Além de Larissa e Jorge, participaram da ação os policiais da 1ª Companhia do 44º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano: 1º Tenente Felipe Augusto dos Santos Silva, 2º Sargento Jonil Inácio Antunes Alves, Cabo Cristiano Valentim dos Prazes, Alexandre Cassiano de Souza Junior e Bruno Tavares e os soldados Leandro Lima Franca, Sandro Mendonça dos Santos, Fernanda Tavares Machado, Thiago Morgado Ferreira Pinto, Kleber Targino da Silva Costa, Samantha Brancato de Souza Misaka, Jefferson Alessandro Gonçalves Tonelli, Anderson Rodrigues Clementino da Cruz e Jefferson Ramos dos Santos.
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