De acordo com Francisco Nishi, presidente da rede, e Graciane Mechenas, diretora clínica, as pessoas ainda não se conscientizaram do problema
Um ano após o início da pandemia da covid-19 o que se vê nos hospitais de Guarulhos e de todo o Brasil não é mais o cenário de uma doença que atinge apenas os idosos e que tinha um alto giro de leitos.
Em conversa com o GRU Diário, na última quinta-feira (11), o doutor Francisco Seiidi Nishi, diretor presidente da Unimed Guarulhos, e a diretora clínica Graciane Dias Figueiredo Mechenas, contaram que a situação é alarmante.
“A gente tem muitos casos internados de todas as idades, não dá para dizer que é o idoso, o jovem, o média idade. O vírus não está escolhendo, ele está pegando todas as idades”, contou a médica.
Na última sexta-feira (12), a rede contava com 51 casos confirmados e internados em unidades do Complexo 8 de Dezembro, dos quais uma das pacientes é uma gestante e outra uma puérpera, ou seja, uma mulher que realizou um parto recentemente.
De acordo com os dois médicos, havia uma perspectiva de aumento em decorrência dos últimos eventos, mas o nível de contaminação surpreendeu.
“O povo brasileiro é muito caloroso, ele abraça, gosta de festas, de se reunir com os amigos. O que a gente observou é que existiram situações em que houve um aumento, nitidamente. Teve eleição, festas de final de ano, teve Carnaval, isto traz um reflexo. Conta 15 dias, é claro que aumenta”, explicou o Dr. Nishi.
O resultado são leitos mais lotados, mas desta vez com maior tempo de internação, com casos mais graves e que já necessitam da suplementação de oxigênio.
“Isto faz com o leito de giro não seja o mais comum. A gente tinha o leito de giro [entrada e saída de pacientes] por cinco dias. Não é o que está acontecendo, fica mais tempo”, explicou Graciane, que afirmou que agora as internações duram entre 10 e 15 dias.
A ampliação de equipes e o limite dos profissionais de saúde
A Unimed Guarulhos ampliou leitos, suspendeu cirurgias eletivas que poderiam ser postergadas e tem buscado ampliar o número de equipes à disposição, mas há um limite até mesmo para estes profissionais, tanto de contratação, porque a demanda está muito grande na área da saúde, como do limite emocional.
“Existe logicamente uma dificuldade muito grande, temos uma equipe preparada, mas existe o fator RH. Como existe uma demanda muito grande a gente tem uma dificuldade muito grande de compor uma nova equipe”, explicou Nishi.
Na Unimed Guarulhos não houve nenhum falecimento de funcionário em decorrência da covid-19, o que não significa que não há um desgaste emocional.
“A gente não pode esquecer que quem está trabalhando com essas pessoas são seres humanos, há um ano nesta luta. Todo mundo muito cansado, muito estressado. Todo mundo esperava que a gente pudesse respirar e a gente não está conseguindo. Estamos com água no nariz e a cada momento que a gente respira entra água pela boca”, explicou a doutora.
A Unimed também disponibiliza psicólogos para seus funcionários.
Sensação de que as pessoas não respeitam as medidas de restrição
De acordo com a diretoria da Unimed, a impressão é que as pessoas não têm seguido as normas de restrição de fechamento dos comércios e continuam a se aglomerar.
“Não foi um lockdown esperado. A gente teve 50% de não mobilidade no domingo, a gente esperava 90%, que as pessoas não saíssem de suas casas”, explicou Graciane
De acordo com o Dr. Nishi, a Unimed lançará uma campanha de conscientização para que as pessoas evitem, até mesmo em consultas hospitalares, comparecerem com um grande número de acompanhantes. Ele ressaltou ainda que pequenos hábitos mesmo dentro de casa podem evitar uma transmissão aos familiares, visto que muitas pessoas se contaminam e acabam por contaminar o restante da família.
“O que a gente observa nitidamente é que quando tem alguém de uma empresa que pegou, a gente percebe que não pegou dentro da empresa, pegou de alguém que pegou fora, levou para dentro de casa e contaminou a família toda. Há uma necessidade para que as pessoas também tomem cuidado dentro de casa”, afirmou o médico.
Entre algumas das medidas citadas pelo médico estão o simples fato de tirar os sapatos para entrar em casa, separar para lavar as roupas utilizadas no dia a dia assim que entrar em casa e até mesmo o hábito de lavar as mãos.
A doutora Graciane ressaltou ainda que atualmente a doença está muito mais perto do que no início da pandemia.
“Se você fizer uma enquete no seu rol de amigos, alguém vai dizer: ‘meu vizinho tá doente, meu amigo tá doente’, e eu não estou vendo nenhuma influência da fase vermelha na realidade das pessoas”, desabafou a médica.
Caso de variantes
Na Unimed Guarulhos, duas pacientes, mãe e filha, que vieram de um voo de passeio para Manaus procuraram atendimento na Unimed de Guarulhos, e os dados da testagem para a variante amazônica foram solicitados pelo Ministério da Saúde, que há 40 dias não retorna o resultado.
Tanto a doutora quanto o doutor afirmaram que isso pouco mudaria a conduta. Segundo a médica, houve um erro na supressão desta variante com a transferência de pacientes para outros estados.
“A gente não teve a garantia de circunscrever a variante em um estado. A gente pulverizou a variante. Se algum dia a gente pôde fazer algo catastrófico foi isso. Em vez de concentrar a gente transferiu para vários lugares”, explicou a doutora.