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Comerciantes se revoltam com fiscalização: “Como as pessoas vão sobreviver sem fazer nada?”

Foto: Profissão Repórter
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Reportagem do “Profissão Repórter” acompanhou fiscais da prefeitura e o desespero dos donos de comércio 

O programa “Profissão Repórter”, da TV Globo, acompanhou os trabalhos dos fiscais da Prefeitura de Guarulhos no Centro e bairros da periferia. O programa foi exibido na noite desta terça-feira (13).

As ações mostram os fiscais agindo para garantir o cumprimento das medidas de restrição impostas pelo governo de São Paulo no combate à pandemia do novo coronavírus durante a fase vermelha. 

Mas do outro lado do balcão, estão os comerciantes que se desesperam e ficam revoltados com as autuações e multas que receberam.

O primeiro flagrante registrado ocorreu em uma barbearia que estava com a porta entreaberta. A fiscal bate, em seguida sai o dono. “Boa tarde. O senhor está funcionando”, perguntou a funcionária. 

O dono nega, mas há um cliente sendo atendido no local. Ele argumenta e diz que é um funcionário da barbearia. Os dois ainda estavam sem máscaras.

“Nós temos que parar de trabalhar, lógico, porque a pandemia está difícil, a questão de mortes de pessoas. Só que acontece o seguinte: as contas chegam para a gente pagar. Como as pessoas vão sobreviver sem fazer nada? Como o essencial abre se você não trabalha para ganhar dinheiro para comprar os seus essenciais? É uma situação difícil e delicada”, ponderou Gilson Souza, dono do local, que acabou sendo multado e autuado. 

A fiscal conta que é comum comerciantes negarem que estão em funcionamento. “É a maneira que eles têm de fugir do flagrante”, disse Wania Rosa, fiscal da Prefeitura de Guarulhos que foi acompanhada pela reportagem. 

Depois foi a vez de um restaurante que estava com as portas abertas. Um dos responsáveis tentou se explicar dizendo que deixou o local aberto para tirar o lixo, mas foi advertido pela fiscal.

O proprietário então se exaltou e tirou as anotações das mãos da fiscal para não ser multado. A funcionária teve que chamar a GCM (Guarda Civil Municipal), que acompanha a equipe de fiscalização. O local foi multado em R$ 1.174.

“Agora eu tenho que me lascar e trabalhar para poder pagar o seu salário”, contou o dono.  “A gente não quer mandar o funcionário embora porque ele também tem filho, mas ninguém quer entender”, explicou a outra proprietária. 

A cena também se repetiu em uma loja de construção, onde uma mulher, ao perceber o que acontecia, questionou os fiscais. “E qual o endereço para mandar as contas para pagar? Tem alguém pagando as contas?”.

A fiscal Wania conta que costuma ser xingada pelo comerciantes que não entendem o seu trabalho e muitas vezes acabam descontando nela toda a revolta que sentem. “É complicado, né? Parece que a culpa é minha. Geralmente, a pessoa briga, xinga. Estou mais acostumada”, disse. 

Em uma adega, a dona implora para não ser multada e diz que outros comércios como dela estão abertos.

“Não faz isso, por favor. A senhora é mãe de família. Eu tenho casa e tenho filho. Me dá uma chance. Eu não abro mais. Pelo amor de Deus, que que é isso? Que vida é essa? Tudo que eu tinha eu coloquei aqui”, chorou Fabiana Redondo.

O dono de uma loja de roupas mostrou as contas atrasadas e se desesperou ao ser multado. Em sua casa, abriu a geladeira e a despensa quase vazias, e apontou para uma infiltração no teto de sua sala.

Em outro restaurante, mesmo com o aluguel reduzido, a dona não conseguia pagar. Ela disse que estava trabalhando com “take away” (retirada de produtos no estabelecimento) que estava proibido na fase vermelha. “Tem mais de R$ 2 mil de conta para pagar, fora o aluguel do meu comércio”, explicou a comerciante. 

Cinco dias depois da gravação, a reportagem voltou a acompanhar os fiscais de Guarulhos. Na ocasião, o sistema chamado “take away” havia sido autorizado pelo governo de SP desde que o cliente não entre no estabelecimento. Muitos comércios estavam abertos por conta da flexibilização.

A equipe do “Profissão Repórter” foi até a adega. “Pelo menos estou trabalhando. O pouco que entra, ajuda”, disse Fabiana. Segundo ela, no período que mais vende, a partir das 20h, é quando precisa fechar.

Equipe de reportagem é expulsa 

Durante a gravação da reportagem, a equipe da TV Globo foi expulsa do Centro de Guarulhos como mostrou o GRU Diário, em 28 de março

Em determinado momento, comerciantes se reúnem ao lado do veículo e começam a criticar a presença da reportagem. “Tá com o salário garantindo né?”, diz um comerciante. “Larga o salário e vem trabalhar pela causa”, insiste outro. “Vocês estão todos com a conta gorda”, “tá com salário garantido, fica atrasando o trabalhador”, argumentam outros comerciantes.

A repórter que está no veículo no Centro de Guarulhos ainda tenta argumentar com o grupo que rechaça a presença da reportagem, mas depois desiste e decide ir embora. Apesar dos ânimos acalorados, nenhuma agressão é registrada no vídeo.

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