Entidade reconhecida como Casa de Cultura e Educação agora pode buscar parcerias públicas e avança na luta contra o racismo religioso
Depois de cinco anos de idas e vindas em cartórios e no Fórum de Guarulhos, a Casa de Cultura e Educação Ilê Asé Alaketú Babamyn Omó Ologunedé comemorou, neste domingo (4), a sua regularização perante as instituições e órgãos governamentais, o que permite a realização e a segurança de cultos e a busca de apoio junto a todas as esferas do poder público.
De acordo com o Babalorixá Elvis, a demora se deu principalmente pela falta de entendimento dos órgãos reguladores perante as questões das religiões de matriz africana e objetos simples já utilizados em igrejas cristãs, como velas e tecidos, foram vistos como empecilhos para regularização do local.
“Na realidade, o povo de matriz africana sofre desde quando esse culto chegou no Brasil. E nós nunca tivemos uma visão ampla em questão a governo de olhar para o povo de matriz africana. Isso sempre foi uma dificuldade muito grande e pela primeira vez na história de Guarulhos nós temos essa casa hoje publicada, registrada, autorizada a publicar os cultos afros como também a participar da cultura e da educação da cidade”, afirmou Elvis.
O evento deste domingo (4) começou com uma passeata e caminhada da Praça 8 de Dezembro, no Taboão, até a Casa de Candomblé, no Jardim Santa Emília. No local, foram recebidas autoridades e apoiadores, que participaram da criação da ata e da posse da presidente, além do hasteamento da bandeira da casa, conhecida na região também por seu trabalho de acolhimento com pessoas em situação de vulnerabilidade e da comunidade LGBTQIAP+.
“O hasteamento da bandeira nos dá o direito através do documento, da autorização e do CNPJ de manter, através da assinatura da ata regularizada e do corpo jurídico, todos os nossos projetos dentro da lei espiritual e da lei carnal. Não devemos nada à Justiça e não tem nada que nos impeça de seguir a nossa trajetória daqui para frente“, afirmou o babalorixá.
Presente no evento, a pré-candidata a vereadora Fernanda Curti ressaltou a importância da regularização do local e a segurança que este evento traz para a realização de cultos no local, visto que muitas casas de candomblé são alvos de denúncia, preconceito e até mesmo de ações policiais consideradas truculentas pelo povo de santo com o impedimento da atividade religiosa e até mesmo o recolhimento dos tabaques e outros instrumentos.
Fernanda ressaltou que assim como há um cuidado para atender as demandas das igrejas neopentecostais também é preciso ter um cuidado com as religiões de matriz africana.
“Essa casa cumpre uma função social muito importante e hoje é um marco para também dizer que o povo de santo existe na cidade de Guarulhos e que nós precisamos de políticas públicas que atendam as demandas da casa. Agora nós existimos e reivindicamos que o poder público também atenda as demandas, como incluir as casas na distribuição dos bancos de alimentos”, afirmou Fernanda.
Assim como Curti, a coordenadora do projeto SOS Racismo da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), Iara Bento, ressaltou que a regularização da casa não é só uma conquista para Guarulhos, mas para toda a religião de matriz africana.
“Como coordenadora do SOS Racismo tenho acompanhado muitas casas que têm sido atacadas, então essa legalização, além de tudo, traz um sentido de pertencimento a todos os filhos, a todas as mães, e a importância de constituir aqui na cidade esse terreiro. É um legado que vem desde nossos ancestrais, que nos dá o pertencimento ao território e isso nos foi negado durante muitos anos”, afirmou Iara.
Também presente no evento, o deputado federal e pré-candidato a prefeito Alencar Santana (PT-SP) ressaltou que ainda há uma polarização muito grande no País e que isso precisa acabar.
“Nós defendemos a liberdade religiosa, que é um princípio constitucional, e nesse momento que persiste uma popularização no país eu acho que nós temos que acabar [com a polarização] e para acabar nós temos que respeitar e valorizar todas as religiões e os valores que cada brasileiro eventualmente possua, seja determinado grupo ou pessoa”, afirmou Santana.