São Paulo é uma cidade que, pouco a pouco, tem destruído o que ainda resta da sua cultura esportiva. E isso será uma tragédia para as próximas gerações
Antes de falar sobre o tema da coluna em si, gostaria de me desculpar com os leitores. Nos últimos 14 dias, estive na Colômbia, a trabalho, e não consegui escrever o texto da última semana.
De volta ao Brasil, soube que o centenário Santa Marina, time de futebol amador de São Paulo, recebeu uma ordem de despejo. Tal ato encerra mais uma história esportiva na capital paulista.
Admito que não tenho nenhum vínculo com o Santa Marina. Nunca fui ao campo, localizado no bairro da Água Branca, zona oeste de São Paulo. Mas ao ler o relato do meu amigo André Duarte, que já jogou algumas vezes na cancha, fiquei emocionado. Em poucas palavras, André, um grande apaixonado pelo futebol, sobretudo o de várzea, conseguiu traduzir a importância de campos como o do Santa Marina para o desenvolvimento de jogadores e cidadãos em São Paulo.
Logo me lembrei dos meus tempos de Jaú da Penha, outra tradicional equipe da várzea paulistana. Sediado na Zona Leste, o clube está quase na divisa de São Paulo com Guarulhos. Quando joguei lá, aos 9, 10 anos, minha família não estava em seus melhores dias, levando em consideração nossa situação financeira. Mesmo assim, eu era uma das crianças mais privilegiadas do time. Isso me faz pensar, 25 anos depois, quantas vidas foram impactadas positivamente pelo Jaú e outros tantos clubes amadores paulistanos. O esporte, muitas vezes, é a única válvula de escape saudável para os jovens carentes.
Além disso, para quem não conhece a história dos grandes clubes da capital paulista, a exemplo de Palmeiras e Corinthians, a origem deles se assemelha à da maioria dos times de várzea da cidade. No caso do Santa Marina, até o ano de nascimento é próximo. O Corinthians foi fundado em 1910, o Palmeiras (Palestra Itália), em 1914, e o Santa Marina nasceu entre os dois: 1913.
Por essas e outras razões, quando um campo de futebol é “tirado do mapa” em São Paulo, fechamos, também, várias portas que dão acesso a um futuro melhor para as nossas crianças e jovens. Preservar o passado é, essencialmente, garantir oportunidades às próximas gerações.
São Paulo já perdeu muitos espaços esportivos desde a sua expansão, iniciada no começo do século XX. O campo que recebeu o primeiro jogo de futebol do país, na Rua do Gasômetro, em 1895, no bairro do Brás, por exemplo, não existe mais. Outras canchas e outros clubes, outrora importantes para a capital paulista, também desapareceram ao longo do tempo, diante da crescente especulação imobiliária.
Nesta semana, chegou ao fim o Santa Marina. Em outro momento, pode ser o Jaú da Penha. Ninguém sabe onde isso vai parar. Mas eu sei que o nosso futuro esportivo está bastante comprometido.
Algo precisa ser feito urgentemente!
*Vinícius Bacelar é jornalista, formado pela Universidade São Judas Tadeu, acumula passagens por algumas das principais redações do Brasil, como Agora S.Paulo, Folha de S. Paulo, R7 e UOL. Também foi editor do Metrô News. Como assessor de imprensa atuou nas eleições municipais de Guarulhos de 2016. Posteriormente, atendeu o Esporte Clube Água Santa, o Bangu Atlético Clube e o Boston City FC Brasil, além de atletas, técnicos e dirigentes.