Sophia desenhou um arco-íris e colou no portão de casa
O desenho de um arco-íris em um cartaz com uma mensagem de esperança. A aluna Sophia Mulzomi da Silva, de 5 anos, estudante da EPG Olavo Bilac, está radiante e não é para menos. Logo depois de realizar uma das atividades do programa Saberes em Casa, conteúdo digital oferecido pela Secretaria de Educação aos alunos da rede municipal, ela recebeu algo surpreendente: uma carta de agradecimento.
A missiva emocionada, assinada por uma mulher que se identificou apenas como Margareth, foi deixada na caixinha de correio da casa de Sophia, no Jardim Tranquilidade, ao lado do cartaz que a menina pregou no portão.
A carta dizia: “Depois de um dia de trabalho passo pela sua rua, desanimada, lembrando das notícias ruins que recebi hoje, de amigos e conhecidos que ou faleceram ou estão doentes. Deparo em um gesto de carinho, conforto e otimismo no seu portão, através da linda pintura e mensagem infantil onde está escrito ‘tudo vai ficar bem, Deus seja louvado'”.
Desde então, o que era apenas mais uma das atividades para os alunos elaborarem em casa com a ajuda dos pais e responsáveis tornou-se motivo de esperança, inspiração e a confirmação de que o programa Saberes em Casa tem alcançado muito mais que os objetivos de aprendizagem: tem tocado o coração das pessoas.

Tudo vai ficar bem
A tarefa de elaborar o cartaz com o desenho e a mensagem foi solicitada dias antes pela educadora Joyce Recco, apresentadora do quadro “É Brincando que se Aprende”, um cantinho especial dentro do programa Saberes em Casa dedicado às crianças dos estágios I e II da Educação Infantil.
Apesar de simples, a tarefa tinha lá seus desafios: fazer o desenho de um arco-íris para alegrar o mundo. Para isso era preciso confeccionar um cartaz com qualquer material disponível em casa, lápis de cor, canetinha, giz de cera, tinta guache. E não parava por aí, era necessário ainda deixar o cartaz pregado do lado de fora de casa para que o maior número de pessoas pudesse vê-lo com a seguinte mensagem de esperança: “vai ficar tudo bem!”.
Professora do Estágio II, Ana Maria de Lima Barros recebeu da avó de Sophia fotos do cartaz da menina e da carta escrita como forma de agradecimento e compartilhou a devolutiva positiva com os demais professores da escola no grupo do WhatsApp. “Temos muitas dificuldades para receber devolutivas do nosso trabalho pedagógico e das atividades elaboradas de modo remoto, então, saber que esse trabalho tocou alguém, que impactou a vida de outra pessoa que estava precisando daquela mensagem naquele dia, é muito emocionante, nos deixa a sensação de que nosso papel tem sido cumprido”, comemorou a educadora.
Mudando o futuro
No começo do ano a equipe responsável por selecionar as atividades Saberes em Casa adquiriu um kit literário composto por livros de literatura infantil e atividades para alunos do Ensino Fundamental. Neste mês de abril o livro utilizado é A História do Arco-Íris, de Daniela Padilha, Paz Marenco, Carolina Schiaffino e Gonzalo Gerandin.
Durante o programa, a educadora Joyce realizou a contação da história para as crianças, que ouviram atentamente sobre a formação do arco-íris, borboletas e luzes. A partir do tema das cores, Joyce incentivou as crianças a desenhar o arco-íris, colocar junto ao desenho uma mensagem de esperança e deixar o desenho pregado em algum lugar do lado de fora de sua casa para que outras pessoas pudessem vê-lo.
“A ideia de desenhar um arco-íris e colocar a frase de esperança não é minha, é parte de uma ação mundial realizada no ano passado que envolveu pessoas de inúmeros países, logo no início da pandemia, quando as aulas foram suspensas e as crianças foram mantidas dentro de casa”, explica Joyce, reforçando a necessidade de renovar votos de esperança.
Saberes em casa, saberes para toda a vida
Encarregada de ajudar Sophia a realizar a atividade, Neli Cristiane da Silva, avó da menina, aprontou a tinta guache e as folhas de sulfite, emendadas umas as outras, para fazer o cartaz. E Sophia não perdeu tempo, escolheu o portão da casa para pregar o cartaz. “Ele ficou muito bonito e eu quis mostrar para as pessoas”, conta Sophia, que é de origem Pankararu, uma das diversas etnias indígenas que existem em Guarulhos.
Na manhã seguinte Neli foi até a frente da casa verificar se havia alguma correspondência na caixa do correio.
“Foi quando eu encontrei a carta. Pensei que se tratava de alguém pedindo dinheiro, mas logo que comecei a ler percebi que ela falava do desenho da Sophia”, conta a avó, que não perdeu tempo e ligou para o número de telefone deixado na carta.
Do outro lado da linha, a funcionária pública Margareth Vasgestian recebeu com grande alegria a ligação de Neli. “Eu estava muito triste com a quantidade de mortes. Não perdi ninguém da minha família, mas a notícia do falecimento de uma amiga que tem dois filhos me deixou estarrecida”, contou Margareth.
Assim que viu o desenho pregado no portão, Margareth foi invadida de um sentimento contagiante de alegria e acolhimento.
“O desenho e a mensagem que havia nele me encheram de ânimo. Voltei para casa e fiquei pensando nas pessoas que se foram e me senti inspirada a reagir, peguei papel e caneta e escrevi a carta para aquela criança para dizer o quanto ela me fez bem”, conta emocionada.
Como aquela esperança que mora em cada um de nós, a gratidão de Margareth demonstra o potencial transformador da educação. No conceito de Paulo Freire, em que reflexão e ação não se separam, a transformação do mundo é uma conquista dos sujeitos que se encontram para colaborar e exercer uma análise crítica sobre a realidade.
“A equipe do programa Saberes em Casa agradece, são muitas as pessoas comprometidas com o planejamento, a organização e a elaboração do conteúdo. Eu empresto meu rosto para um dos quadros, mas há alguém responsável pelos desenhos, animação da vinheta, edição, interpretação em Libras, é tanta gente envolvida para que o programa possa ir ao ar que nesse momento encontram no desenho da Sophia e na carta da Margareth a verdadeira renovação dos laços de esperança, dos quais todos nós precisamos tanto”, vibra Joyce Recco.
Para além do desenho da Sophia, outras crianças também realizaram a atividade, colocaram seus desenhos em locais visíveis, compartilharam a ação com a hashtag #saberesemcasa e marcaram o perfil @portalseinforme. Vale muito a pena conferir, agarrar-se a esses carinhosos fios de esperança e continuar acreditando no futuro, confiando que tudo vai ficar bem.