Situação já foi pior: até 2018, a nota do trecho do rio em Guarulhos era “péssima”
Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, lançado no Dia do Tietê (22), constata que as mudanças de comportamento da sociedade por conta da pandemia de Covid-19 contribuíram para a redução de poluição no rio Tietê, principalmente com a diminuição do lixo nas ruas e a fuligem de veículos. Em Guarulhos, contudo, a situação segue preocupante: a qualidade da água foi considerada ruim no trecho do rio na cidade.
O Tietê em Guarulhos também foi considerado com qualidade de água ruim no ano passado. O levantamento é um avanço, se comparado com os anos anteriores, em que a nota do município era “péssima”.
Os dados apontam que, dos 83 pontos de coleta – distribuídos em 47 rios de 38 municípios -, 6 (7,2%) mantiveram qualidade de água boa de forma perene, 55 (66,3%) regular, 21 (25,3%) ruim e 1 (1,2%) péssimo. Nenhum ponto registrou qualidade de água ótima. Os dados são do relatório Observando o Tietê 2020 – O retrato da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê.
O estudo aponta ainda que a pandemia acarretou no aumento da pressão por uso da água pela população.
A qualidade de água ruim, imprópria para usos e inadequada para a vida aquática, ficou dividida em dois trechos – diferente das manchas anteriores que eram contínuas -, totalizando 150 km. Isso equivale a 13% da extensão do rio, quase o dobro da marca histórica de 71 km, alcançada em 2014.
Não houve registro de trechos com qualidade de água péssima ao longo do rio Tietê, apenas em um de seus afluentes, o Córrego José Gladiador, na cidade de São Paulo. Por outro lado, a condição de água boa e regular – que permitem vida aquática, abastecimento público, produção de alimentos, atividades de lazer e esportivas – estenderam-se a 382 km, o que representa 66,32% da extensão de 576 km do trecho monitorado do rio, que tem ao todo 1.100 km, da sua nascente até a foz.
A mancha de poluição mensurada neste ciclo é diferente das medições anteriores, por não ser contínua e por ter sido ampliada no trecho do Médio Tietê, em decorrência da transferência de lodo e de poluentes após operações de barragens do Sistema Alto Tietê para controle de cheias. Revisões nas regras operativas das barragens e a manutenção, desassoreamento e limpeza dos reservatórios teriam contribuído para que a mancha de poluição deste ciclo se aproximasse da menor medição obtida na série histórica.
Os especialistas destacam que, também em virtude da pandemia, um trecho de 44 km, correspondente a 4% da extensão do rio, não foi analisado neste ciclo. Esse trecho compreendido entre os municípios de São Paulo e Barueri, a partir da ponte da Rodovia Anhanguera, é bastante poluído e apresenta pouca variação na condição de qualidade da água nas séries históricas de monitoramento. Se fosse considerado com qualidade de água ruim, com base nos indicadores aferidos na Ponte das Bandeiras, até o subsequente em Santana de Parnaíba, a mancha de rio considerado poluído e em condições impróprias atingiria 194 km, ficando maior que no período anterior, de setembro de 2018 a agosto de 2019, quando estava contida, de forma contínua, em 163 km.
“O rio Tietê é muito impactado por variações climáticas que, neste período de monitoramento, foram bastante intensas. Porém, de certa forma temos algo a celebrar com estes dados, embora sejam muito atípicos e inéditos. Desde 2010, nunca tivemos qualidade de água boa nos reservatórios do Tietê no período de estiagem. Os indicadores das séries históricas ficavam na condição regular ou ruim, por conta da grande concentração de nutrientes e da proliferação de algas e plantas aquáticas. Se não fosse a abertura de barragens, em fevereiro e agosto deste ano, não teríamos qualidade ruim entre Porto Feliz e Laranjal. Ou seja, a mancha seria bem menor”, afirma Malu Ribeiro, gerente da Fundação SOS Mata Atlântica.
Os dados apresentados foram medidos por grupos de voluntários do Observando os Rios, projeto da Fundação SOS Mata Atlântica que conta com o patrocínio da Ypê e apoio da Sompo. Os pontos analisados estão distribuídos nas bacias hidrográficas do Alto Tietê, Médio Tietê, Sorocaba e Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que abrangem 102 municípios das Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba.
As análises foram feitas pelos voluntários entre setembro de 2019 e fevereiro de 2020, e depois realizadas em agosto deste ano. A interrupção nas coletas entre março e julho se deu por conta da pandemia do novo coronavirus, que impossibilitou a saída a campo. Sendo assim, as coletas e análises consideradas essenciais para mensurar a evolução da qualidade da água foram feitas pela equipe técnica da Fundação SOS Mata Atlântica, em agosto, após a flexibilização das fases do programa de retomada das atividades no estado de São Paulo, seguindo protocolos de segurança especialmente elaborados para o monitoramento da água.
Dados também inéditos do Atlas da Mata Atlântica, monitoramento via satélite para identificar o desmatamento no bioma, feito pela Fundação em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), aponta que 79% (7.226.066 hectares) da Bacia do Tietê (9.172.066 hectares, abrangendo 265 cidades), faz parte do bioma Mata Atlântica. Restam hoje pouco mais de um milhão de hectares de florestas nativas e áreas naturais acima de 1 hectare (18%), incluindo a vegetação de várzea (66.183 hectares). As florestas mais preservadas (acima de 3 hectares) totalizam 856.043 ha (11,84%). Desde 2000, foi identificado o desmatamento de 6.206 hectares – área 4 vezes do tamanho do município de São Paulo.