Após retornar de uma cirurgia no coração, em Mogi das Cruzes, Thiago Silva contou que foi dispensado praticamente na porta da garagem do hospital sem nenhuma orientação
O paciente Thiago Silva, 32 anos, afirmou ter sofrido omissão de socorro por parte de uma médica do Hospital Municipal de Urgências, no Bom Clima, na madrugada desta sexta-feira, 31, quando retornou após um cateterismo realizado na Santa Casa de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, e disse ter recebido alta sem orientação médica.
O paciente teve de realizar o procedimento em Mogi por conta de seu peso. Nenhum dos equipamentos disponíveis na cidade seria capaz de realizar o procedimento em pessoas obesas. O caso gerou grande mobilização nas redes sociais.
Depois de realizar a cirurgia, ele retornou em uma ambulância com uma equipe médica do HMU, na qual estava a médica Stella Regina.
“Chegando no HMU, antes de eu descer da maca, eu estava sendo desconectado do cinto de segurança, a médica virou e disse: ‘te deram alta lá, então você está de alta aqui, você pode ir para casa’. Ela virou de costas, entrou no hospital e foi embora”, contou Thiago.
Ele disse que recebeu de uma enfermeira alguns documentos, exames de imagem da Santa Casa e uma guia de encaminhamento, mas não uma autorização formal de alta. No caminho para casa, junto de alguns amigos, percebeu que ainda estava com o acesso para ministrar medicamentos na veia de seu braço. Então, decidiu retornar para o hospital.
Quando encontrou a médica, Thiago afirmou estar nervoso e sabe que se exaltou, mas quando falou com a profissional sobre o acesso venoso em seu braço, ouviu que retirar o equipamento não era o trabalho dela, mas da enfermeira.
Neste momento, o paciente disse que chamaria a polícia por omissão de socorro e a médica retrucou, disse que ela é quem acionaria os policiais. Ela afirmou não ser obrigada a aguentar ignorância e se afastou de Thiago.

Ainda com o acesso venoso no braço, o publicitário foi atendido por uma enfermeira e o equipamento foi retirado. Ele pediu para falar com um responsável do hospital, que estava jantando e não o atendeu. Outro médico, chamado Bruno Ferrante, segundo o relato do paciente, retomou o atendimento e disse que o internaria ou ele poderia ir embora. Thiago não quis entregar os documentos que estava em mãos para Ferrante.
Inconformado com o atendimento, Thiago deixou o hospital e continuou sem orientação médica.
Prefeitura nega que haja negligência
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde negou que tenha ocorrido negligência médica ou omissão de socorro.
Em nota, o órgão afirmou que a médica estava na equipe de transporte e conversou com os médicos de Mogi sobre a alta do paciente. De acordo com a pasta, o rapaz estaria “satisfeito” em retornar para casa.
A Secretaria também afirmou que o doutor Bruno Ferrante não disse que internaria o paciente, mas que buscaria no sistema se realmente ele estava de alta, o que não constava.
“Ressalta-se que tanto a Dra. Stella, quanto o relatório do plantão administrativo informam que o paciente apresentou postura de desrespeito com a médica, incluindo agressões verbais”, diz a nota da Secretaria.
A Saúde Municipal também afirmou que não pretende tomar nenhuma medida administrativa, nem mesmo uma advertência contra a médica. “O órgão responsável por analisar conduta médica é o Conselho Profissional”, afirmou.
Sobre o atendimento ao paciente, a Secretaria não informou uma data ou se prontificou a entrar em contato com o publicitário, disse apenas que “a equipe do HMU está à disposição do paciente para prestar os esclarecimentos e reavaliar o quadro clínico, caso haja necessidade”.
Thiago segue sem orientação e nega satisfação com alta
A reportagem do GRU Diário voltou a questionar Thiago sobre o ocorrido e as declarações da Saúde. O paciente negou estar “satisfeito” com a alta.
“Existe uma diferença para alta de Mogi e da internação do HMU. Foi me dada a alta em Mogi. A alta que eles me deram foi em relação ao procedimento, e não ao HMU”, afirmou o paciente.
Thiago reiterou que acredita que o comportamento da médica foi nocivo, já que ela simplesmente falou que ele estava de alta e “virou as costas”. Ele reafirmou a falta de orientação no HMU e teme ter alguma complicação por conta da falta de instrução no hospital municipal.
“Eu não sei o que fazer”, desabafou o paciente.