Sindicato afirma que Uber e 99 criaram promoções que tornam inviável o custo ao trabalhador e não realizaram reajustes para compensar gastos com veículo
Motoristas de aplicativo marcaram para o próximo dia 26 um protesto que deve começar na Capital e passar pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, em Cumbica, para pedir que a Uber e a 99 readequem os preços das tarifas cobradas dos usuários e encerrem promoções como o Uber Promo e 99 Poupa, que reduzem o valor das viagens.
O ato é organizado pelo Stattesp (Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transportes Terrestres Intermunicipal do Estado de São Paulo), e contará com motoristas de todo o Estado. A estimativa é de que 200 mil paulistas trabalhem com o aplicativo, sendo que até 10 mil deles podem ser de Guarulhos.

De acordo com Leandro da Cruz Medeiros, presidente do sindicato, o aumento da gasolina e os gastos com insumos para o carro fazem com que o motorista fique com apenas 30% do ganho das viagens realizadas e arque com todos os custos possíveis.
“As empresas têm que entender que não há mais como dizer que os trabalhadores usam o aplicativo apenas para complementar a renda. Com o desemprego e a pandemia 95% dos motoristas que trabalham para aplicativos fazem deles a única fonte de renda”, afirmou Medeiros.
Um motorista ouvido pela reportagem, que não quis se identificar para evitar retaliações, afirmou que seus ganhos com os aplicativos foram reduzidos ano a ano. “Antes eu chegava a fazer até R$ 300 trabalhando 12 horas. Hoje quando faço R$ 200 é muito. Viagem que antes era R$ 11 agora sai por pouco mais de R$ 5”, afirmou o motorista.
Entre as demandas dos motoristas também estão o auxílio-funeral, seguro de vida, cadastro universal, mais segurança, apoio jurídico e fim do desligamento.
De acordo com o presidente do Sindicato, andar de Uber ou 99 ficou mais barato do que andar de ônibus. “Hoje se você juntar três pessoas no carro, de ônibus o gasto ia ser superior a R$ 12, enquanto às vezes o Uber faz a viagem por R$ 6”, explicou.
Medeiros citou ainda que um motorista que tem um carro alugado ficou em uma situação ainda pior, porque para conseguir fazer o dinheiro para a própria sobrevivência ele precisa recuperar o valor do aluguel do carro somado a todas as demais despesas. O Sindicato quer que as empresas se comprometam a se reunir mensalmente para ouvir a demanda da categoria.
Ele afirmou não ser contra as vantagens oferecidas aos passageiros, mas que é preciso valorizar também os motoristas que prestam o serviço. “Quanto menos o passageiro puder pagar ele vai optar pela tarifa menor, mas o que vem acontecendo prejudica os trabalhadores que precisam trabalhar para se manter”, argumentou.
O presidente do sindicato afirmou que no dia do protesto os motoristas não deverão aceitar viagens e que fará uma ampla planfletagem para conscientização da categoria.
A reportagem questionou a Uber e a 99 sobre as reivindicações dos motoristas, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.
Ao portal Repórter Diário, do ABC Paulista, a Uber afirmou em nota que a plataforma Promo foi criada para atender quem não quer ser arriscar no transporte público por causa da covid-19 e diz, ainda, que o motorista não precisa aceitar a corrida.
“O Uber Promo foi criado durante a pandemia para gerar mais viagens para os parceiros em horários de baixo movimento. Portanto, o Uber Promo só aparece em alguns horários, ao oferecer viagens a valores menores do que os do Uber X. O Uber Promo cumpre um papel importante ao atender pessoas que, neste momento, têm preferido evitar o transporte público”, diz a nota.
A empresa cita ainda que os motoristas podem desabilitar as viagens promo no aplicativo Uber Driver.
Vale ressaltar que durante a pandemia, muitos motoristas de Uber reclamaram que não conseguiam mais passageiros e que muitos tiveram até mesmo de devolver seus veículos.