Gestora, conhecida como Capitã Cloroquina, prestou depoimento à CPI da Pandemia
A secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou à CPI da Pandemia, no Senado Federal, que, na qualidade de médica, mantém a orientação do uso de cloroquina e “de todos os recursos possíveis para salvar vidas”. A adoção do medicamento contra a covid-19 foi um dos principais temas abordados pelos senadores no depoimento desta terça-feira (25) na comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Senado.
A servidora, que é titular da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde da pasta, disse ainda que nunca recebeu ordem para defender o remédio e que o ministério nunca recomendou o uso da substância, mas apenas orientou a comunidade médica para a dosagem segura, uma vez que a cloroquina e a hidroxicloroquina já vinham sendo usadas no mundo inteiro.
O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), lembrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda mais o uso dos remédios, e a testemunha respondeu que, embora o Brasil seja signatário da entidade, os ministérios da Saúde de todos os países do mundo são órgãos independentes e têm autonomia para a tomada de decisão de acordo com as situações locais.
Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, afirmou que cloroquina não é antiviral em “estudo sério” nenhum do mundo. Trata-se de um antiparasitário, frisou. Ao se referir ao presidente Jair Bolsonaro, ele disse que a insistência em permanecer no erro não é virtude, mas defeito de personalidade.
A secretária respondeu dizendo que há estudos demonstrando efeitos antivirais da cloroquina e reiterou que nunca disse que o medicamento seja capaz de curar a covid-19, mas, sim, diminuir as internações e evitar o colapso do sistema de saúde.
Indagada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a representante do Ministério da Saúde disse não achar adequado o apelido que ganhou de “Capitã Cloroquina”. “Não acho o termo adequado, pois não sou oficial de carreira militar. Sou uma médica respeitada no meu estado, por isso prefiro ser chamada apenas de doutora Mayra Pinheiro”, afirmou.
Tratamento precoce
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse que tem havido um debate muito grande na comissão sobre a cloroquina e “tratamento precoce” — mas só em relação ao governo federal —, sendo que a execução das políticas públicas são feitas pelos estados e municípios nas suas respectivas unidades de saúde.
O governista fez um levantamento mostrando que há estados seguindo atualmente o protocolo de “tratamento precoce” com adoção de cloroquina. É o caso, segundo ele, de Alagoas, Bahia, São Paulo, Amapá.
Imunidade de rebanho
Pressionada pelo relator sobre a teoria da imunidade de rebanho, a secretária do Ministério da Saúde esclareceu à CPI da Pandemia que a tese não pode ser usada indistintamente na população por não ser possível prever o tempo e a intensidade de exposição necessárias até que seja atingido algum benefício.
O relator chegou a exibir um vídeo em que a representante do Executivo fala sobre o assunto, mas ele alegou que estava se referindo somente às crianças e não à população em geral.
Ainda segundo ela, a tese de imunidade de rebanho nunca foi cogitada pelo Ministério da Saúde como estratégia de combate à pandemia; além disso, o assunto nunca foi discutido com ela pelo presidente da República.
Genocídio
A reunião desta terça-feira já começou com um bate-boca entre governistas e o relator Renan Calheiros, que abriu seus questionamentos com um texto sobre o Tribunal de Nuremberg, que julgou nazistas após a Segunda Guerra Mundial. Ao falar da lealdade de Hermann Goring a Adolf Hitler e do genocídio dos judeus, Renan foi imediatamente interrompido pelo líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).
“É um absurdo querer comparar a situação que nós estamos enfrentando aqui com o genocídio que ocorreu na Alemanha. É um absurdo. Isso é mais que um prejulgamento! É uma coisa odienta! Odienta”, prostestou Coelho.
Horas depois, o senador Marcos Rogério leu nota da Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiando a menção ao nazismo feita por Renan. O relator, então, alegou que não comparou a pandemia ao Holocausto, e sim, “à atitude de negação” de autoridades.
(Com informações da Agência Senado)