Saiba como conversar com uma criança sobre educação sexual e o que fazer quando houver uma denúncia de abuso
O Brasil vê estarrecido diversas notícias sobre os absurdos cometidos por garimpeiros na reserva indígena Yanomami, localizada ao norte do país. Entre todos os relatos, o mais cruel é o de abuso sexual contra crianças e adolescentes. Trinta meninas estariam grávidas, segundo o secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel de Castro.
Infelizmente, casos assim acontecem em todo o território nacional. De acordo com um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com a Unicef, 100 crianças de até 14 anos são estupradas diariamente no Brasil.
Como adultos, não devemos apenas nos espantar com tais dados. Temos que agir para acabar com esse crime. E é sobre isso que trata o post de hoje.
Antes de mais nada, precisamos falar sobre educação sexual. Por meio dela, entre outras coisas, explicamos quais comportamentos de um adulto são abusivos.
Desta forma, a criança tem mais chances de reconhecer, desde cedo, um aliciador. Isso pode ser feito de diversas formas e sempre com uma linguagem adequada para cada faixa etária, tomando o cuidado para não fornecer informações em demasia ou alarmar, evitando que a criança se sinta acuada e amedrontada.
Educar uma criança inclui alertar sobre qualquer contato físico iniciado por um adulto, explicando quais são as partes de seu corpo que ninguém pode tocar. Também é interessante pensar em estratégias, junto com a criança, para fugas de situações constrangedoras.
Além disso, é essencial mostrar para a criança que não se deve guardar segredos, mesmo que ela seja chantageada ou se sinta com medo.
De forma lúdica, também é possível brincar com figuras de personagens, a fim de mostrar a diferença entre toques bons, como o afago na cabeça, e os toques que são ruins – em partes íntimas ou que gerem qualquer tipo de incômodo.
Existem diversos livrinhos infantis que explicam, de maneira compreensível, como se prevenir contra o abuso sexual.
Acima de tudo, é importante lembrar que é o adulto quem protege a criança, que deve prestar atenção em seu comportamento e em qualquer mudança emocional e/ou física repentina, assim como estar atento às pessoas que fazem parte da vida dela e os lugares que frequenta.
De acordo com o artigo 13 do ECA, é dever de todo cidadão fazer algo a respeito quando se trata de violência envolvendo crianças e adolescentes: “Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”.
Por serem pessoas vulneráveis, as crianças e adolescentes necessitam de proteção, mesmo que isso signifique se envolver em situações que não dizem respeito ao seu próprio núcleo familiar. As crianças não conseguem se defender sozinhas, principalmente quando a ameaça está dentro de suas próprias casas.
Elas precisam que alguém intervenha em situações danosas e as ajude em um desenvolvimento saudável.
Diversas autoridades podem receber as denúncias: Conselhos Tutelares; Juizado da Infância e da Juventude; Polícia / Delegacia; Promotor de Justiça da Infância e da Juventude e Centros de Defesa da Criança e do Adolescente.
Existem também números de telefone, como o Disque 100 – Disque Direitos Humanos e o Disque 181 – Disque Denúncia. Ainda há sites, como o safernet.org.br.
Vamos, juntos, impedir que a infância brasileira seja destruída.
Autora: Ingryd Abrão
Diretora Operacional da ONG Núcleo Espiral, psicóloga clínica especialista em emergências e crises.
Sobre o Núcleo Espiral
O Núcleo Espiral, há mais de 14 anos, dedica-se à educação, pesquisa e aos estudos contra a prática de violência ou tratamento degradante à pessoa humana, em especial, à criança e ao adolescente.