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Homem é preso por ter primeiro nome igual ao de bandido que ligou para comparsa no Presidente Dutra e família alega injustiça

Denis

Foto: arquivo pessoal

Além de ter um número de telefone diferente, imagens obtidas pela família mostram que Denis estava em outro lugar no momento do crime

Familiares e amigos de Denis Rodrigues Ribeiro, 37 anos, afirmam que ele foi preso injustamente na última sexta-feira (21), no Jardim Presidente Dutra, quando foi enquadrado junto a um grupo de pessoas por policiais militares e levado à delegacia porque tinha o mesmo nome de um bandido que ligou para um comparsa que estava em poder da polícia, acusado de roubar uma carga dos Correios.

Mesmo após verificar que Denis não tinha o mesmo número de telefone e nem a mesma imagem de WhatsApp do comparsa do criminoso, os policiais levaram o homem para a delegacia e a vítima do roubo, um agente dos Correios, disse ter reconhecido Denis pela “voz” e pelos “olhos” como um dos autores do crime, o que fez com que a prisão dele fosse decretada.

O GRU Diário teve acesso ao boletim de ocorrência e verificou que toda a história começou por volta de 11h35, quando três criminosos abordaram um van dos Correios na Rua Olimpio Ferreira Duarte, no Inocoop. O funcionário da empresa estava parado e foi abordado por três homens que gritaram “vai, vai, é um assalto”.

Ele afirma então que foi feito refém entre 20 e 25 minutos e que uma kombi escoltou os criminosos que tomaram a van até ele ser abandonado na Rua Gonçalves Dias, na Vila Carmela. Após ser solto, ele avisou a polícia sobre o crime.

Por volta das 16h, na Avenida Francisco Xavier Correia, em Cumbica, policiais militares avistaram um indivíduo dentro de um Escort com diversas mercadorias na parte traseira. Ao receber a ordem de parada, o homem primeiramente tentou fugir, mas parou e admitiu que os produtos eram frutos de um roubo de van dos Correios.

O homem então afirmou que a van foi desmontada e que as peças estavam em uma oficina na Praça do Orobó, no Jardim Presidente Dutra. Foi neste momento que o telefone do homem tocou e o identificador de chamadas mostrou o nome “Denis”.

De acordo com o homem detido, Denis era um dos responsáveis pelo roubo da carga e o estava esperando na Praça do Orobó, próximo a um carro de cor azul. Ao chegar no local, os policiais abordaram um grupo de pessoas e Denis Ribeiro Rodrigues estava entre eles. Questionado, ele mostrou o celular para os policiais, que comprovaram que o número de telefone e a imagem usada no aplicativo WhatsApp dele eram diferentes a do criminoso que também se chama Denis, e que ligou para o homem detido com os pertences da van.

Mesmo assim, Denis foi levado ao 7º Distrito Policial e o agente dos Correios disse, “sem sombra de dúvidas”, mesmo sabendo que os bandidos estavam de capuz, que o reconhecia pela voz, olhos e cor da pele. Denis então foi detido.

Vale ressaltar que quando os polícias chegaram à Praça do Orobó, homens que estavam em um Corsa tentaram fugir, mas foram cercados pela PM. Denis não estava com estes homens, mas um deles estava armado e havia uma série de produtos roubados da van dos Correios no porta-malas. O condutor e o passageiro armado também foram detidos.

A versão de Denis

Aos policias, Denis contou que por volta de 11h estava no mercado, onde foi comprar pão para os filhos.

Por volta de 12h50, foi para a casa da sogra, próxima à Praça do Orobó, e pouco depois, às 13h30, foi a uma loja de manutenção técnica de celulares, onde pagou o conserto de um aparelho no cartão de crédito. O recibo deste pagamento foi apresentado por ele, feito às 13h23.

Ele alega então que retornou para a casa da sogra, saiu para cortar o cabelo e retornou às 15h40, quando foi abordado pelos policiais.

Denis afirmou que não conhece nenhum dos homens levados com ele para a delegacia e comprovou que seu número é diferente do que foi identificado no celular do homem que estava em poder da polícia.

Amigos e familiares reúnem imagens e gravações de Denis em outro lugar no momento do crime

Amigos próximos e familiares de Denis ficaram indignados com a prisão dele e se reuniram para colher provas de sua inocência e realizar uma vaquinha para pagar um advogado.

De acordo com o comerciante Ednaldo Moraes de Andrade, de 40 anos, que conhece Denis desde criança, a prisão é injusta.

“Ele veio na casa da sogra e estava em frente à adega quando foi abordado pelos policiais. Como ele tinha o mesmo nome de um criminoso que ligou para outro, ele foi abordado. Uns caras que estavam do outro lado da rua caíram fora e a gente achou que era só levar o documento do Denis que ele seria liberado, mas no sábado teve audiência de custódia e ele continuou preso”, explicou o comerciante.

A esposa de Denis, Tatiane, juntos desde 1999, contou que ele estava com um dos três filhos, de 12 anos, no momento da abordagem, e que em momento nenhum ele participou de qualquer crime.

“A gente pegou uma filmagem de uma viela onde ele passa com os meninos por volta do 12h49. A gente também conseguiu uma imagem dele no supermercado, mas não quiseram liberar a gravação. Do lado que dá para minha casa é carga e descarga, com certeza tem alguma imagem dele lá, longe de onde o crime acontecia”, disse a mulher.

A imagem, cedida pela esposa de Denis ao GRU Diário, mostra que ele estava no mercado às 10h18 (veja a foto abaixo):

Foto: cedida pela família

Outro vídeo mostra Denis passando por uma viela, acompanhado dos filhos, por volta de 12h50:

Outras imagens mostram Denis com os três filhos chegando à Praça do Orobó para ir à casa da sogra:

E por fim, há um vídeo do momento do enquadro:

Advogado contesta reconhecimento por “olhos, cor e voz” e afirma que não havia tempo para Denis cometer o crime

Advogado contratado pela família após a audiência de custódia ocorrida no sábado (22), que tornou a prisão de Denis preventiva, Eduardo Ferrari afirmou que o modelo de reconhecimento foi temerário e que seria inviável que Denis tivesse tempo hábil para cometer o crime.

“A vítima narrou que o ladrão estava de capuz, somente com os olhos aparecendo e sabemos que após um crime a vítima está com adrenalina alta, situação de estresse aguda. A vítima confunde as situações. Todos estes elementos aliados ao fato de que ele estava em outro local indicam que ele é inocente”, disse Ferrari.

Durante a conversa com o GRU Diário, o advogado afirmou que já preparava o recurso para pedir a soltura de Denis e que todo o processo poderia demorar até 10 dias para avaliação da Justiça.

O que diz a Secretaria de Segurança Pública

A reportagem do GRU Diário questionou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) sobre o procedimento realizado e se a declaração da vítima era suficiente para prender Denis, já que os bandidos estavam de capuz.

A Secretaria, em nota, se limitou a falar que a prisão ocorreu em flagrante:


O caso foi registrado como roubo de carga, na última sexta-feira (21), pelo 7º Distrito Policial de Guarulhos. Na ocasião, quatro homens, com idades entre 37 e 45 anos, foram presos em flagrante. Os indiciados ficaram à disposição da Justiça”, disse a SSP em nota.

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