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Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras

Foto: reprodução/Instagram
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Atletas do time de handebol continuam a treinar em casa durante a pandemia e sonham com retorno às quadras.

Num mundo sem contato físico, muitas atividades se tornaram impossíveis e a prática de esportes, antes recomendada, teve de ser paralisada. Com o handebol não poderia ser diferente, mas há um time com atletas focados no treino mesmo sem pisar nas quadras.

Estamos falando do Herkules Guarulhos, um time colecionador de títulos. E vai além: mais do que 120 atletas, o Herkules reúne famílias, torcedores e comissão técnica, todos em prol da paixão pelo esporte.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Zuza (à frente) com atletas do Herkules (Foto: Reprodução/Facebook)

De acordo com o técnico Alexandre Ribeiro, de 45 anos, conhecido como Zuza, o Herkules saiu na frente dos adversários porque não parou de treinar durante a pandemia. Inicialmente, o clube pensou no planejamento anual.

“A gente pensa nas conquistas, planejamento técnico, construções que a gente f`az, crescimento, expansão de novas categorias, mas tivemos um novo problema à frente, que foi a pandemia”, disse Zuza.

O técnico e fundador do clube é objetivo em dizer que o pior da pandemia é a falta de contato físico e a incerteza do retorno às quadras.

“Cria-se uma expectativa de jogar e você não sabe quando vai poder voltar para a quadra. Fica uma lacuna de formação, de aprendizagem do atleta, uma lacuna emocional também”, disse o técnico.

Mas não há tempo para lamentação. O técnico explicou que foi preciso traçar alguns objetivos, pensar em oferecer estímulo físico e suprir não só a necessidade do treino físico dos atletas – acostumados a ir a campo três vezes por semana – como também a parte emocional e lúdica.

O jeito foi usar o aplicativo Zoom e reunir a galera para treinar em casa: juntos, mas separados.

Treinando em Casa

Os espaços são mais apertados e não há companhia dos atletas de treino. A emoção de gritar “gol” teve de ser adiada. É preciso manter o foco para não se distrair com televisão e videogame, tudo o que não tinha nas quadras.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Arquivo Pessoal/Gustavo

Salas e quartos se tornaram espaços de treino e o foco no treino para as crianças e dos adolescentes que compõem as categorias de base: mirim (11 a 12 anos), infantil (13 a 14 anos) e cadete (15 a 16 anos).

O estudante Gustavo de Moura Aragão (Foto), 15 anos, joga como pivô. É um dos atletas vice-campeão do campeonato Sul-Americano de Handebol, no qual o Herkules atuou como representante da seleção brasileira na categoria infantil e ficou em segundo lugar após perder para Argentina.

Gustavo pratica esportes de forma constante e, até o ano passado, dividia sua dedicação entre o time do São Paulo de basquete e o handebol, quando decidiu investir em sua carreira no Herkules. Ele sonha em jogar na Europa, onde o handebol é mais valorizado.

Com a pandemia, o atleta não desanimou: o jeito foi treinar no quarto.

“Não é igual na quadra, mas dá para manter. Eu tenho treino online três vezes por semana. A gente vem de um ano de conquistas e não podemos nos deixar abater. Quando voltarmos estaremos muito mais preparados que outros clubes”, contou Gustavo.

O time não pede, mas Gustavo mantém uma dieta para evitar o ganho de peso e a perda de agilidade quando voltar às quadras. Este ano, infelizmente, muitos campeonatos já foram cancelados, mas ainda há expectativa de realização dos campeonatos Paulista e Brasileiro.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Arquivo Pessoal/Gustavo

Sobre um eventual retorno, o atleta afirma que ainda não há uma expectativa e é enfático em dizer que não dá para jogar de máscara.

“Não tem como jogar de máscara, iria cansar e suar muito, ficaria sem proteção muito rápido. Temos de esperar, torcer para vir logo a vacina”, explicou.

O pai de Gustavo, Jucyleudo Fernandes Aragão, 38 anos, disse que o filho se adaptou bem à rotina de treinos em casa.

“O Gustavo sempre foi bem concentrado, eu acho que ele absorveu bem essa questão do treino pela internet e ele sempre foi acostumado a manter a boa forma porque sempre praticou esportes”, afirma Fernandes.

Deixando o videogame de lado

O estudante Nicolas Lima Mariani, de 13 anos, jogador da categoria infantil, e também vice-campeão sul-americano, disse à reportagem do GRU Diário que para focar no treinamento teve de se disciplinar a jogar videogame somente nos dias de descanso.

Assim como Gustavo, ele também não vê a hora de retornar às quadras e sonha em jogar na Europa.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Arquivo Pessoal/Nicolas

“Por eu não ter nem contato com a bola, é mais difícil ver o meu desenvolvimento. Eu me mantenho focado, dou 120% de mim porque nós vamos sair na frente das outras equipes, nós começamos a treinar quando parou tudo”, disse o atleta.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Arquivo Pessoal/Nicolas

A mãe do Nicolas, Paula Mariani, 49, conta que entende a ansiedade dos garotos para voltar a jogar.

“Eu sinto falta do barulho de tênis pisando na quadra, imagina eles que são os atletas. Ele treina na sala, às vezes, para correr, usa um pouco do espaço do condomínio, mas não é a mesma coisa da quadra, a gente entende a ansiedade deles”, contou.

Nicolas começou a jogar depois que um tio, que praticava o esporte, apresentou a ele o handebol. Desde então, o garoto disse que se “encontrou”.

Mesmo com todo esse empenho, é preciso não deixar a bola sair de campo, nem os atletas ficarem desmotivados. É aí que entram os psicólogos.

A psicologia do esporte no Herkules

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Reprodução/Facebook/Camila e Gil

Com o afastamento das quadras, a preocupação da comissão técnica do time não ficou voltada apenas ao preparo físico, mas também para o lado emocional da equipe.

O Hérkules Guarulhos conta com dois psicólogos: Gilson de Castro Maia e Camila Pinheiro. Eles são responsáveis por conversar com os atletas e também tiveram de se renovar durante a pandemia.

De acordo com Maia, não se trata apenas do jogo, mas de como os atletas, em uma fase tão jovem, tiveram de se adaptar a uma nova realidade e a uma nova rotina.

“A criança passava em média, no máximo, de 4 a 6 horas com os pais. Têm crianças que passam até menos, saindo de manhã e chegando no fim da tarde. Eles passaram a conviver 24 horas. Isto, nesta fase, gera mais desgaste porque eles querem uma maior independência, mesmo que obedecendo as regras dos pais”, explicou o psicólogo.

De acordo com Gilson, esse distanciamento no começo da adolescência é muito importante porque é o início da quebra de vínculo. “Eles começam a ter este processo de autonomia muito maior e de repente a pandemia tirou isso deles”, argumentou.

Com o afastamento das quadras e o acúmulo de tarefas em casa, o psicólogo ressaltou que os atletas acabam desmotivados em alguns momentos, tanto pela falta do treino com bola como da necessidade de se disciplinar cada vez mais.

Para não permitir o desgaste excessivo da garotada, a comissão técnica buscou outros caminhos, como uma Copa de STOP, aquele jogo de infância em que se escolhe um tema e sorteia uma letra. Então, os atletas devem falar, um por vez, um país, por exemplo, que comece com aquela letra. Quem errar tem de fazer um exercício em seguida.

De acordo com Zuza e Gilson, a primeira Copa de STOP foi um sucesso e contou com a participação de vários outros clubes de handebol.

E não foi somente esse jogo. Também foram propostas outras atividades lúdicas, como filmes e brincadeiras para diminuir a estafa dos jogadores que compõem a história do clube. E por falar em história…

A história do Herkules

De acordo com a diretora Débora Suzuki, na função desde 2017, tudo começou com a ideia do técnico Zuza, em 2015, de montar o time e participar do Campeonato Paulista.

“Ele falou com alguns pais, juntou algumas crianças, e conseguiu montar um time da categoria mirim”, contou a gestora.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Reprodução/Facebook/Cesar Bombom

O começo foi difícil. Sem patrocínio, Zuza entrou em contato com o goleiro da seleção brasileira, César Bombom (Foto à esquerda), que conseguiu intermediar uma parceria com o time norueguês Herkules.

Resultado: os garotos participaram do campeonato e ficaram com o terceiro lugar e Bombom se tornou padrinho do clube.

“Ninguém acreditou no potencial do time no começo, mas um clube da terceira divisão da Noruega acreditou e mandou os uniformes pra gente jogar usando o logotipo deles e com consentimento”, disse Débora.

Mas em 2016, o time, sem patrocínio e lugar onde jogar, teve de ser desfeito. Os atletas foram alocados em outras equipes.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Pais, comissão técnica e diretoria com o troféu de terceiro lugar da categoria Cadete no Paulista (Foto: Divulgação)

Entretanto, a separação durou pouco. No mesmo ano, a Prefeitura cedeu o Ginásio Paschoal Thomeu, o Thomeuzão, para treinos. Em 2017, muitos pais se uniram para formar a grande família que o Herkules Guarulhos é nos dias atuais. De lá para cá, vários títulos foram conquistados (veja relação no fim da matéria).

De acordo com Débora, a relação construída com o Herkules é também um vínculo de apoio social. A equipe reúne atletas de diferentes classes e nem todos têm condições de bancar custos, como viagens à Europa para participar de campeonatos.

É nesse momento que entra a solidariedade. Além da busca por patrocínios, pais de atletas ajudam os amigos dos filhos arcando com as despesas.

A Prefeitura contribui com o espaço de treino, no Ginásio Paschoal Thomeu, e paga a inscrição do Campeonato Paulista. Os pais dos atletas conseguiram alguns patrocínios e também oficializaram uma associação para poder buscar recursos com a Lei de Incentivo ao Esporte.

De acordo com Débora, os pais das crianças têm um ótimo relacionamento entre si e estão inclusive com saudades das reuniões e viagens organizadas em campeonatos.

Herkules Guarulhos: um time muito além das quadras
Foto: Reprodução/Theo Suzuki

“Na pandemia, a gente mantém os atletas conectados e mantém os pais também. Eles morrem de saudade. Colocam nos grupos [de whatsapp] fotos de viagens, eventos, atividades, mímica, treino que tivemos antes da pandemia”, conta a diretora.

Vale ressaltar que o filho de Débora, Theo Suzuki, também é um dos atletas do time. Com 13 anos, ele também disputou a final da Copa Sul-Americana.

Questionado sobre o crescimento da família Herkules, o técnico Zuza disse que nunca imaginou que o projeto tomaria tamanha proporção.

“Sou extremamente realizado em poder contribuir com muitas famílias. O trabalho no desenvolvimento social vem causando grande impacto. Além de sermos um grande competidor, contribuímos na formação do ser humano. Isso é o mais importante dentro do Herkules”, afirmou Zuza.

A lista de títulos do Herkules (2015 – 2019)

2015

• 3º lugar Campeonato Paulista, Mirim

2016

• Não participou de campeonatos, por falta de recursos financeiros.

2017

• 1º lugar Campeonato Paulista, série Ouro, Mirim
• 1º lugar Campeonato Paulista, série Prata, Mirim
• 3º lugar no Campeonato Partille Cup, Suécia, Mirim
• 2º lugar Campeonato Paulista, Infantil
• 3º lugar Campeonato Brasileiro, Santa Catarina, Infantil
• 3º lugar no Campeonato Dronninglund Cup, Dinamarca, Infantil
• 2 atletas foram considerados os melhores do Brasil, em suas respectivas posições, no Campeonato Brasileiro:

  • Arthur Urbani – Ponta Esquerda
  • Nicolas Ribera – Pivô
  • 6 atletas Herkules, categoria Infantil, foram convocados para o acampamento da Seleção Brasileira de Handebol:
  • Arthur Urbani
  • Enzo Astro
  • Kauan Rodrigues
  • Henrique Magalhães
  • Nicolas Ribera
  • Tarek Sammour

(O Herkules entrou para a história por ser a primeira e única equipe brasileira a subir no pódio de Partille Cup, ao conquistar a terceira colocação, entre 60 equipes de vários países participantes; feito inédito pelas equipes sul-americanas. Partille Cup, é o maior torneio de Handebol amador do mundo, onde competem aproximadamente 22 mil atletas.
Além disso, a equipe foi convidada a representar o Brasil no desfile de abertura dos jogos).

2018

• 1º lugar Campeonato Paulista, série ouro, Mirim
• 1º lugar Campeonato Paulista, série prata, Mirim
• 1º lugar Paris World Games, França, Mirim e Infantil
• 2º lugar Taça Estado de SP, Infantil e Cadete
• 3º lugar Final Four, Campeonato Paulista, Infantil
• 2 atletas artilheiros do Campeonato Paulista Mirim:

  • Caio Yue
  • Theo Suzuki
    • 4 atletas Herkules, categoria Infantil, foram convocados para o acampamento da Seleção Brasileira de Handebol:
  • Enrico Monteiro
  • Nelson Barbosa
  • Pedro Teixeira
  • Vinícius Bertoldo
    • 4 atletas Herkules, categoria Cadete, foram convocados para o acampamento da Seleção Brasileira de Handebol:
  • Guilherme Fonseca
  • Heitor Mauri
  • Kauan Rodrigues
  • Samir Froes

2019

• 1º lugar Campeonato Paulista, série ouro, Mirim
• 2º lugar Campeonato Paulista, série prata, Mirim
• 1º lugar Maia Cup, Portugal, Mirim
• 1º lugar Campeonato Paulista, Infantil
• 1º lugar, Campeonato Brasileiro, Santa Catarina, Infantil
• 2º lugar, Campeonato Sul-Americano, Paraguai, Infantil
• 1 atleta artilheiro do Campeonato Paulista Mirim:

  • Theo Suzuki
    5 atletas foram considerados os melhores do Brasil, em suas respectivas posições, no Campeonato Brasileiro:
  • Emerson Alves dos Santos – Central
  • Guilherme Maia – Goleiro
  • Gustavo Aragão – Pivô
  • Matheus Góes – Ponta Direita
  • Pedro Teixeira – Ponta Esquerda

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