História de Júlio serve de inspiração para jovens que querem buscar seus sonhos
Qual seria a sua reação se uma professora te falasse que você não será nada na vida? Júlio César de Melo do Nascimento, guarulhense de 29 anos, viveu na pele esse baque quando ainda estava na segunda série do Ensino Fundamental. Naquele dia, há mais de 20 anos, ele voltou chorando para casa. Atualmente, conta a história com seu diploma de mestrado em história do Japão, conquistado na Universidade de Tohoku, como bolsista, no país nipônico.
Formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), com foco em japonês, Júlio relembra que sua trajetória até ter uma das certificações mais respeitadas de todo o mundo em mãos não foi fácil. De família humilde, sempre estudou em escola pública. “Até a oitava série, passei pelo lar da Irmã Celeste, depois pelo Jocila [E.E. Professora Jocila Pereira Guimarães, Vila Galvão] e, por último, o Homero [E.E. Professor Homero Rubens de Sá]”, conta.
Foi quando surgiu a oportunidade de fazer um curso preparatório para um “vestibulinho”, uma prova em que os alunos podem conquistar vagas em escolas técnicas. Ele passou no Liceu de Artes e Ofícios e concluiu o Ensino Médio em São Paulo.

Mas a paixão pela cultura japonesa começou bem antes. “Quando eu era criança, gostava de assistir animes que passavam na TV, principalmente na Globo e na Band”, conta Júlio. “Eu não sabia que eram japoneses, só achava muito mais legal do que outros desenhos. Foi no Ensino Médio que descobri o que era anime e aí o interesse começou a crescer”.
Entre seus 15 e 17 anos, ele iniciou os estudos de letras japonesas sozinho. “Comprava mangás e ia em eventos relacionados ao Japão”, lembra. Hoje, dez anos depois, o guarulhense brinca com o trauma vivido na infância com o caso do início da reportagem. “Ela mostrava meu caderno para a sala e falava que minha letra era feia, que ninguém deveria escrever daquele jeito. Hoje escrevo em japonês também, mas a letra nunca deixou de ser feia”, diz o rapaz.
Se uma professora o desmotivou, não faltaram incentivos de pessoas importantes em sua trajetória. Júlio destaca seus pais, o porteiro Claudemir e a encarregada de limpeza Lucineide, moradores de uma comunidade da Vila Rosália e muito importantes em suas conquistas. “Eles sempre me incentivaram. Uma vez, ainda no Homero, surgiu a chance de eu fazer um curso de computação e pedi para ele [pai]. De algum jeito ele conseguiu se virar e fazer com que eu estudasse, o que me ajudou e ajuda até hoje”.
E se você acha que Júlio chegou ao topo, se enganou. Com vontade de conquistar cada vez mais seus objetivos, ele já iniciou o doutorado. “Dia primeiro de abril foi meu primeiro dia como estudante de doutorado. São três anos, mas vamos ver o que acontece no futuro”. Ele está no Japão desde 2018 e mora com a esposa, a também brasileira Marina de Melo do Nascimento, de 29 anos.

Atualmente, o guarulhense dá aulas de inglês em uma escola e, às vezes, de japonês pela internet. Marina é professora de inglês em um cursinho e auxilia crianças brasileiras que moram no Japão e que estão em escolas nipônicas, mas que ainda não aprenderam a linguagem. Ambos ainda trabalham na biblioteca da universidade como tradutores para alunos que não sabem japonês.
Para os jovens estudantes – ou aqueles que ainda perseguem seus sonhos com garra e determinação, mesmo com a situação atual do País -, Júlio tem uma mensagem. “A situação pode ser difícil, mas nada é impossível. As coisas não acontecem de uma hora pra outra, levam tempo, mas ter persistência é muito importante. Eu queria muito passar na prova pra poder vir pro Japão, prestei e não passei da primeira vez. Mas fui teimoso, estudei mais, escrevi projeto e prestei de novo, foi aí que consegui. É importante não desistir”.