Os Estados Unidos contam com quase 1 milhão de pessoas contaminadas e mais de 56 mil mortes, mas embora aconteçam situações críticas como na cidade de Nova York, existem cidades que quase não contam com pessoas contaminadas e que mesmo com o isolamento social atendem a necessidade de todos que nela habitam, caso do empresário Bruno Mendonça, de 39 anos, que vive com a família em Boca Raton, na Flórida, com pouco mais de 300 casos confirmados de coronavírus.
Fora do epicentro da doença, o empresário contou que a maioria dos americanos têm bastante respeito por suas autoridades e seguem as orientações dadas. “Tem gente na rua com máscaras, com luvas, sprays com álcool em gel, fazendo acepção.”

Com suas empresas, o guarulhense de coração, nascido em Recife e trazido para Guarulhos ainda criança, contou que teve de se adaptar a nova realidade e observar as oportunidades para conseguir se manter durante a pandemia.
Ele contou que poderia, mas não recebe os 1,2 mil dólares, o equivalente a mais de R$ 6 mil, que o governo americano repassou para os trabalhadores americanos durante a pandemia. “Nos Estados Unidos é possível se manter com dois mil dólares, isso com direito à moradia e carro, mas com os pés no chão”, disse.
Por sinal, já não é novidade que nos Estados Unidos os carros são bem mais baratos e mesmo o custo de alimentação é baixo. Imagine que é possível ir a um Outback, gastar 20 dólares e sair satisfeito. “Com 30 dólares por mês você tem o Iphone do momento com um bom plano de telefonia”, explicou.
Um Corolla, um dos veículos mais bem avaliados e top de linha da Toyota no Brasil, não passa de um carro popular nos EUA.

Sobre as contas rotineiras de água, luz, gás, internet, entre outras, o empresário explicou que com a pandemia e o decreto do governador Ron DeSantis que determina a quarentena, os pagamentos, em sua maioria feitos por aplicativos, podem ser adiados e renegociados após o fim da quarentena, que começa a ser flexibilizada na cidade já no 1º de maio.
“Quando você entra nop aplicativo de pagamento já aparece mensagens sobre Covid-19 e eles já te perguntam se você quer ou não postergar. Se você quiser fica até 60 dias sem pagar, sem cobrança de juros. Quando passar o decreto do governador você pode negociar”, contou.
Questionado sobre a questão da falta de saúde pública, o empresário contou que assim como no Brasil existem serviços sob demanda, similar ao Dr. Consulta, que facilitam a vida dos norte-americanos. Um plano de saúde custa em média 250 dólares por pessoa, mas em caso de internação para casos graves o valor pode passar de 15 mil dólares.
“Se você tiver um problema e precisar de um médico você será atendido. Se quando sair você não tiver como pagar existem opções de pagamento facilitadas pelo seguro social, mas se você não pagar este parcelamento não será atendido na próxima vez”, ressaltou.
“Caro aqui é o serviço odontológico. Antes de trazer minha família aqui eu mandei todo mundo fazer um check-up médico e odontológico”, brincou.
Bruno tem duas empresas: a RedSpot (agência de comunicação) e a Cash4U(caixas eletrônicos). Em meio à crise, a segunda empresa, na qual ele compra os caixas eletrônicos e instala em comércios, shoppings e postos de gasolina foi a que mais sentiu a crise.
“Como nós tivemos muitos comércios fechados e o lucro sobre os caixas eletrônicos é baseado na cobrança de taxas por cada operação a renda caiu, mas ainda assim consigo ter renda com as que estão em postos de gasolina”, contou o empresário.
No momento, ele tem pelo menos cinco caixas eletrônicos parados. Segundo Mendonça, chamado de Mendonca nos EUA porque não existe ç na gramática norte-americana, muitos dos saques são feitos para pagar gorjetas (tips). “Aqui nos EUA é muito comum dar gorjeta para quem presta serviços”.
Já no caso da primeira empresa, a agência de comunicação, Bruno contou que continua a produzir alguns vídeos e materiais para internet. No Brasil ele já trabalhou em canais de comunicação como a Record News e chegou a ter uma tv em Guarulhos, portanto já possuía uma expertise no setor.

Mas Bruno contou que durante a pandemia aproveitou para vender máscaras personalizadas. “Eu conversei com um amigo sobre o tema e perguntei o custo de uma máquina de impressão (para personalizar as máscaras). Tenho quem produza as máscaras e as personalizo”, contou.
Mendonça vende os equipamentos de proteção no atacado, mas conta que outras pessoas também começaram a produzir máscaras para ter uma renda durante o período de pandemia e começaram a vender no varejo também.
Sobre linhas de crédito para empresários durante a pandemia, Bruno argumentou que diferente do Brasil, onde mesmo depois de anunciadas as medidas muitas vezes não atendem empresários menores, o dinheiro norte-americano chega sim aos pequenos empreendedores com boas condições de pagamento, sem juros ou com juros risíveis.
Apesar de ter uma vida estável nos EUA, Bruno contou que chegou ao país quebrado. Quando desembarcou, no dia 10 de junho de 2019 tinha 400 dólares no bolso provenientes de uma vaquinha feita por familiares e precisava se virar para sobreviver no local.
Ficou duas semanas na casa de um amigo e aos poucos os negócios foram surgindo. Primeiro com a produção de vídeos institucionais e comerciais.
Bruno chegou a passar e viver por Nova York, mas conta que acabou por optar por ficar em Boca Raton depois. Só depois de se estabilizar foi quando decidiu trazer a família para perto.
Outro ponto citado como destaque pelo empresário, é que a segurança também é maior. “Aqui a punição é pra valer. Se cometeu o crime, vai ter de pagar e cumprir pena, e isso faz com que as pessoas pensem duas vezes antes de cometer uma infração”, disse.
Sobre Guarulhos, o empresário disse que sente saudades. “Eu tenho muita saudade de Guarulhos, com certeza ainda visitarei. É a cidade que amo”.