Mesmo em meio à pandemia, o debate entre esquerda e direita parece não ter fim, embora o novo coronavírus, causador da covid-19, não pareça fazer distinção entre quem será contaminado, mas uma declaração do ex-presidente Lula (PT) em entrevista à Carta Capital, chamou a atenção.
“Quando eu vejo essas pessoas acharem que tem que vender tudo que é público e que tudo que é público não presta nada… Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus, porque esse monstro está permitindo que os cegos enxerguem, que os cegos comecem a enxergar, que apenas o estado é capaz de dar solução a determinadas crises”, disse o ex-presidente.
Há ainda quem defenda que o ex-presidente foi vítima, assim como a maioria dos apoiadores de Jair Bolsonaro (Sem Partido) também o falam, da imprensa, que distorceu suas palavras.
Afinal, quando determinado ‘político de estimação’ apoiado por uma determinada categoria fala uma besteira como a do ex-presidente, não é possível aceitar, é muito mais fácil culpar aqueles que mostram o que muitos não querem enxergar.
Os cegos a quem Lula se refere não pode ser somente aqueles que estão à direita, mas também que aqueles que estão à esquerda e parecem negar que a principal alavanca do bolsonarismo foi o final da gestão petista.
Claro que não se pode deixar Bolsonaro passar ileso em um texto sobre falas polêmicas, para não usar outros adjetivos. Relembre uma das mais recentes: “Quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma Tubaína”, disse o atual presidente.
Para muitos se trata de uma fala do ‘tiozão do churrasco’, mas o que pensam os familiares dos quase 18 mil brasileiros mortos pela covid-19? E o profissionais de saúde? Parece que o Brasil criou populações que ignoram a realidade e anseiam, de qualquer modo, que suas vontades e opiniões sejam verdades absolutas e quando contestadas os argumentos contrários são tratados como fake news, afinal, nada pode contestar a realidade alternativa criada para favorecer o político que aquele cidadão apoia.
Ambos os políticos citados cometeram gafes e seus apoiadores deveriam cobrá-los igualmente sobre suas falas, afinal, quando se trata de um cidadão comum ou outro artista o famoso cancelamento da internet já teria ocorrido.
Há dúvidas sobre a crise econômica, sobre como agir em uma situação como esta: morrer de fome ou morrer de covid-19? E muitos governos não sabem como combater este inimigo invisível.
Vale citar aqui também o governo do Estado e mesmo a Prefeitura de São Paulo que, embora pareçam tentar fazer de tudo para evitar a proliferação do vírus, muitas vezes tomam decisões que parecem seguir no caminho contrário, como um rodízio mais restrito que aumenta a demanda no transporte público, considerado por especialistas um dos principais meios de contaminação, ou mesmo o mega feriadão desta semana, que faz com que pessoas achem que ganharam um tempo de descanso para ir ao litoral.
Enquanto não houver colaboração da população e o vírus continuar a se proliferar, o Brasil fica distante de um “novo normal” em que a sociedade seja capaz de manter distância para evitar a contaminação, mas com capacidade de ir fazer compras ou mesmo trabalhar, independente de ser empregado ou proprietário de um comércio essencial.
O “novo normal” para o qual o Brasil caminha parece ser o do confronto, do negacionismo, no qual não importa quem morra, desde o lado que determinado cidadão apoiou seja o certo, mesmo que esteja errado.