Se começarmos a aceitar o fim das torcidas visitantes nos estádios brasileiros, na verdade, estaremos aceitando a morte do futebol
São Paulo já tem uma péssima fama no resto do país por vários motivos. Nem cabe listá-los aqui, pois ficaria o dia inteiro escrevendo. Mas um deles, com certeza, é a violência, que foi usada para eliminar a torcida visitante nos grandes clássicos do futebol paulista.
Nunca concordei com tal medida, ainda mais porque as brigas continuam, cada vez mais ferozes, longe dos estádios. E nada, absolutamente nada, é feito para combatê-las.
Mas quando achei que já tínhamos chegado ao fundo do poço, vi que ainda há um imenso pré-sal para ser explorado no futebol brasileiro. No último final de semana, conseguiram proibir a torcida visitante em uma partida entre dois clubes de estados distintos. Goiás e Corinthians, no fim das contas, nem entraram em campo diante de tal imbróglio.
Sim, já houve cenas de barbárie protagonizadas por torcedores desses dois times. Assim como, infelizmente, já vimos outras brigas entre torcidas de equipes de estados diferentes. A mais recente aconteceu entre cruzeirenses e palmeirenses, em Minas Gerais, em uma rodovia. Naquele dia, as equipes sequer se enfrentariam. Será que os torcedores do Cruzeiro não poderão mais visitar São Paulo? E os do Palmeiras? Terão permissão para ver seu time em solos mineiros?
Pessoas que não gostam ou não acompanham o futebol com tanta atenção, talvez, possam achar que proibir duas torcidas em um estádio seja a solução. É como se o futebol fosse o culpado.
No entanto, essas pessoas se esquecem de que o esporte é o reflexo da sociedade. O Brasil é um país que foi forjado na violência contra índios, negros e pessoas pobres (imigrantes ou nativos). O resultado não poderia ser outro e o futebol sempre nos mostra isso. Enquanto impedimos que haja torcedores de times distintos no local do jogo, eles se matam nas avenidas, trens, metrôs, etc.
Se começarmos a aceitar o fim das torcidas visitantes nos estádios brasileiros, ainda mais quando falamos de dois clubes que sequer estão na mesma prateleira, na verdade, estaremos aceitando a morte do futebol.