Futebol feminino chega a nível, que, há alguns anos, era inimaginável. E tem muito ainda a crescer
Hoje, dia 19 de setembro de 2022, escrevo uma carta para Sisleide do Amor Lima, mais conhecida como Sissi. Ainda escrevo para Miraildes Maciel Mota, a Formiga. Obviamente, também não posso me esquecer de Marta Vieira da Silva, a craque Marta, e Cristiane Rozeira, a artilheira Cris.
Vocês, que um dia foram meninas e hoje são mulheres, lembram-se da primeira vez que chutaram uma bola? Recordam-se de quando chegaram para algum (a) parente ou amigo (a) e disse: “Quero ser jogadora de futebol”? Imagino que sim. Assim como imagino que as reações dos interlocutores não foram as melhores e os olhares, com certeza, os mais tortos possíveis.
Mas vocês – e muitas outras – não deram bola para as falas desencorajadoras e nem para as caras feias. Mesmo em um cenário completamente desfavorável, chegaram lá! Vestiram a camisa da seleção de um país, que, até 1979, nem permitia que as mulheres jogassem futebol.
Só que vocês não ficaram satisfeitas em apenas praticar o esporte bretão e defender as cores do Brasil por meio dele. Vocês foram além. Formiga, Marta e Cris foram finalistas mundiais e olímpicas. Por pouco, não conquistaram os principais títulos da modalidade. Se faltou alguma coisa na linda carreira de vocês, talvez tenha sido isso mesmo: uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos ou uma taça da Copa do Mundo.
No entanto, Sissi, Formiga, Marta e Cris, além de muitas outras que escreveram a história do futebol feminino em nosso país, mesmo sem terem a noção disso, acabaram de ganhar um troféu mais importante do que esses citados. No domingo (18), a final do Campeonato Brasileiro, entre Internacional e Corinthians, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS), foi acompanhada por 36.330 pessoas. Tal número representa um recorde de público em uma partida disputada por mulheres no Brasil.
O placar de 1 a 1 pouco importa. O fato de o ingresso ter sido alimento não perecível, também é irrelevante (a não ser para as milhares de pessoas que serão ajudadas pela arrecadação das 27 toneladas de alimentos). Nada diminui o feito. A história foi escrita na capital gaúcha na manhã/tarde desse domingo.
Quando Sissi, Formiga, Marta e Cris começaram a jogar futebol, contra tudo e contra todos, imaginavam que uma partida feminina seria acompanhada por mais de 36 mil pessoas? Acredito que não, mas graças a elas e outras, isso foi possível! Que na semana que vem, a torcida corintiana faça a sua parte e lote a Neo Química Arena, em Itaquera. E que esse recorde seja batido jogo após jogo. Não há limite para o crescimento do futebol feminino e os números mostram isso.
A todas as mulheres que não desistiram de seus sonhos e fizeram do futebol as suas vidas, o meu muito obrigado. Essa carta é para vocês, com todo o carinho!