Em meio a pandemia, podemos perceber tantas coisas importantes que passavam despercebidas no nosso dia-a-dia
Hoje voltei a escrever minha coluna, exatos dois meses após a última. Sinceramente, esse hiato se deu por uma completa falta de vontade de escrever, afinal, essa coluna, no cerne da sua descrição, deveria ser para trazer assuntos e fatos interessantes, entreter as pessoas, coisas boas entendem? Não me achei no direito de falar sobre assuntos aleatórios enquanto todos vivemos momentos de incertezas e de apreensão com um futuro que não temos ideia de como será. No entanto, após o desenrolar dos acontecimentos, ponderei que, momentos de incertezas, apreensão com um futuro que não temos ideia de como será, nada mais é do que a essência da vida do ser humano.
Obviamente que uma pandemia ajuda a fortalecer esses sentimentos e nos faz perceber com maior detalhe as ações que praticamos diariamente. As despedidas diárias ao sair de casa, seja para ir trabalhar ou ir no supermercado, padaria, farmácia e etc., passam a ter uma profundidade maior nos nossos pensamentos, chegar em casa e vermos nossa família bem e saudável nos faz mais felizes do que normalmente notamos, assim como, quando passamos por momentos de dificuldades e perdas, a dor parece ser mais profunda e permanente… Pelo menos tem sido assim para mim e para alguns amigos com quem conversei sobre o assunto.
Acredito que é a percepção de um bom número de pessoas, se você não notou, talvez agora note, se não tem sido assim, por favor, comente e compartilhe a sua visão comigo e com os demais leitores, acredito que é importante, mas voltando ao assunto: notamos como o nosso planeta realmente pode ser incrivelmente hostil, seja pela produção de fenômenos naturais ou aqueles gerados por ações diretas e indiretas do ser humano.
Vemos que temos muito a aprender e um caminho longo a trilhar no sentido de domínio da natureza da humanidade e do planeta em que vivemos. Essa pandemia, pelo menos para mim, serviu para olhar um pouco mais para dentro, voltar a dar importância às pequenas coisas, mas de grande relevância. Sendo assim, após essa introdução filosófica, entendi que voltar a escrever a coluna pode ser tão importante para quem vai ler quanto é para mim e entre todos os motivos e descrição da mesma, acredito que ela pode servir para trazer um pouco de reflexão, para isso, quero trazer um tema que discutia a uns dias com alguns colegas sobre a essencialidade de algumas atividades, e dos profissionais, técnicos ou não, que atuam nas mesmas.
Em um momento de quarentena que as autoridades mandam ficar em casa, salvo as funções essenciais, precisamos nos perguntar, quais são elas e o que é essencial?
Entenda que a ideia desse artigo não é concordar ou discordar das autoridades, tão pouco ser conclusivo, mas muito pelo contrário, fazer com que cada um reflita e se questione.
Apesar do sentido mais introspectivo desse artigo, acredito que não temos motivo para discordar da importância e satisfação de ao entrar em nossas casas e apertar o interruptor ver a lâmpada acender, certo? E ligar o chuveiro e ter água quente, já que é de fundamental importância que nos banhemos ao chegar em casa para tirar todas as impurezas que trazemos da rua, incluindo os possíveis patógenos causadores de doenças entre eles o Coronavírus? Todos tem falado de funções essenciais ligadas a área da saúde, e umas poucas outras, mas esquecem das funções que fazem o dia-a-dia das pessoas mais palatáveis.
Usei o exemplo da lâmpada e do chuveiro por serem coisas tão normais que por vezes esquecemos da sua essencialidade e de toda a estrutura necessária para que funcione. Vamos arranhar um pouco esse processo produtivo!
As geradoras de energia e distribuidoras precisam funcionar, acho que concordamos com isso. Esses locais, normalmente, para operar com segurança, atuam em regime de plantão 24 horas, sete dias por semana, os eletricistas, técnicos e engenheiros precisam estar in loco e para ir ao trabalho é necessário ter algum tipo de transporte, seja próprio ou de terceiro.
O local precisa estar limpo e conservado, normalmente feito por um profissional de limpeza e manutenção, a alimentação dele não se materializa, é preciso comprar ou levar de casa, vamos entender que nesse exemplo a alimentação será comprada com um pedido delivery. Logo a entrega tem que ser feita por alguém, o pagamento, normalmente eletrônico precisa funcionar, após comer os resíduos, como a embalagem, guardanapos e etc. precisam ser dispostos em algum recipiente adequado para posteriormente ser recolhido e direcionado a um aterro. Vou parar o fluxo do processo por aqui, para não alongar demasiadamente a análise.
Se o profissional for de carro, ele precisa abastecer alguma vez na vida, considerando que o carro não seja elétrico, logo, postos de abastecimento precisam estar funcionando, como no Brasil a nossa legislação não permita o autoatendimento nos postos de gasolina é preciso ter um frentista. Se o profissional for trabalhar por outro meio de transporte, normalmente público, como ônibus, metrô ou trem, e em alguns casos usamos todos eles, é, obviamente, preciso que o condutor ou condutores estejam trabalhando. Se o equipamento de transporte que ele usa está operacional, logo, profissionais de manutenção e limpeza trabalharam para que ele esteja em condições de circular, para o almoço, se for pedido delivery, alguém recebeu o pedido, preparou o alimento, embalou, entregou ao motoboy e esse, foi até o local de entrega, considerando que o pagamento foi online, o celular ou computador utilizado para a compra precisou estar funcionando, assim como a conectividade com os sistemas informatizados do restaurante, empresa que processa o pagamento e do banco do consumidor.
Para isso tudo funcionar, é necessário operadores, programadores, técnicos de TI e toda uma estrutura, que existe em algum lugar do mundo. Depois da refeição, podemos dizer que os resíduos vão parar em uma cesta de lixo e são recolhidos por um trabalhador da área de limpeza de um empresa especializada, conhecidos por muitos como garis, transportados em um caminhão e dispostos em um aterro, para isso temos diversos profissionais envolvidos, seja para operar o caminhão ou mantê-lo funcionando até abrir o portão do aterro, verificar balança de medição, emitir os tíquetes, relatórios e etc. Sem falar que se for em áreas densamente povoadas, os restos do recolhimento do lixo muitas vezes ficam no chão e são varridos, também por pessoas ou equipamentos operados por pessoas. Vejam só como uma atividade simples, como apertar uma tecla de interruptor em nossa casa envolve tantas pessoas e profissões.
Nessa cadeia produtiva para o pleno funcionamento do interruptor que você aperta ao entrar em casa ou o chuveiro que você liga quem você entende ser o mais essencial?
Vamos refletir.
* Joel Rodrigues é Engenheiro Civil, 41 anos, casado, dois filhos, MBA em Gestão de Negócios, pós-graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e Engenharia Ferroviária pelo Instituto de Pós-graduação de Goiânia. Possui experiência de mais de 20 anos em projetos, obras e serviços de engenharia em empresas de Construção, Montagem, Manutenção Civil e Industrial, com atuação nos segmentos Aeroportuário, Hospitalar, Portuário, Transporte de Valores, Segurança Patrimonial, Naval, Concessões, Óleo & Gás, Obras Públicas, Infraestrutura entre outras.