Trabalhadores relatam casos de mortes suspeitas entre os profissionais. Prefeitura diz que não há registros de mortes por covid-19 entre a categoria
Na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus, 125 profissionais de saúde da Prefeitura de Guarulhos tiveram de ser afastados por suspeita ou diagnóstico de contaminação pelo novo coronavírus, de acordo com dados da Secretaria de Gestão até o período de 27 de maio.
Destes servidores, 33 foram afastados com indicação de diagnóstico por Covid-19 e 92 com suspeita. De acordo com a Secretaria de Saúde, estes afastamentos foram baseados “somente na indicação documental registrada pelo médico assistencial (Cid10). Não há garantias de que foram realizados os exames clínicos necessários para a confirmação da patologia”.
De acordo com a pasta, não há como testar todos os trabalhadores da Saúde. “A Secretaria de Saúde tem unidades específicas para a realização do exame PCR (que consiste na pesquisa direta do vírus das mucosas das narinas e orofaringe) em profissionais de Saúde. Portanto, a orientação da secretaria é para que todo profissional de Saúde que apresente qualquer início de desconforto respiratório, incluindo perda de olfato e de paladar, procure imediatamente essas unidades para a realização do exame e início da quarentena sempre que necessário”.
O órgão informou que com o recebimento de um lote de testes rápidos do Ministério da Saúde, para utilização em público específico, com inclusão de profissionais de Saúde em atividade, a Secretaria fará a testagem naqueles que apresentaram sintomas e não colheram exame, no início da pandemia, ou nas situações em que o resultado foi inconclusivo.
“Neste caso, a nova análise vai servir como complemento do diagnóstico, uma vez que o teste rápido identifica a resposta do organismo para a infecção do Covid-19, ou seja, o anticorpo”, disse em nota.
A Secretaria não informou o número de trabalhadores que integram o grupo de risco. Atualmente, sindicatos e associações têm pedido liminares para afastar trabalhadores da linha de frente que integram a necessidade de cuidados especiais, como idosos e pessoas com comorbidades.
Servidores ouvidos pela reportagem relataram ter feito o teste e mesmo sem o resultado, após 14 dias, terem de retornar ao trabalho.
Questionado sobre o procedimento em caso de suspeita entre funcionários da saúde, o governo municipal afirmou que se o funcionário apresentar qualquer sintoma, “ele já é afastado imediatamente, sendo orientado a realizar o exame PCR no terceiro dia do surgimento dos sintomas. Nesses casos, ele fica afastado até sair o resultado. Se negativo, ele volta a trabalhar e, quando positivo, ele ficará afastado por 14 dias”.
Apesar de o secretário de Saúde, José Mario, afirmar que todos os trabalhadores possuem equipamentos de proteção individual (EPIs), muitos questionam a qualidade dos acessórios e dizem se sentir inseguros.
No Samu há reclamações da higienização das ambulâncias, feita pelos próprios trabalhadores à reportagem.
MORTES SUSPEITAS
A reportagem apurou ainda que existem mortes suspeitas por coronavírus de servidores da categoria. A Prefeitura, porém, negou que tenha registros de mortes por covid-19 entre os profissionais de saúde da rede municipal.
Na quarta-feira, 27, faleceu a gerente do Centro de Atendimento Multiprofissional à Pessoa com Deficiência (Campd), Susie Figueiredo. Segundo profissionais de saúde que trabalharam ou eram próximos dela, Susie, que fazia parte do grupo de risco, teria sido vítima de covid-19, mas a reportagem não conseguiu confirmar com a família se ela morreu em decorrência de coronavírus.
Outra morte recente, da auxiliar de enfermagem Francilene Fuzaiti, que mesmo aposentada continuava a trabalhar na policlínica Paraventi, também pode ter ocorrido por conta da covid-19. Ela teria feito o teste para covid-19 e H1N1 por apresentar sintomas suspeitos para ambas as doenças, mas os resultados foram negativos. Segundo profissionais próximos, não houve tempo para fazer a contraprova.
Na Policlínica Paraventi também tem uma funcionária, Marcia Zanotto, que há mais de dois meses está internada com a doença e entubada em estado crítico.
Hospital Geral de Guarulhos
De acordo com a frente Parlamentares em Defesa do Orçamento, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) pelo menos 400 profissionais de saúde tiveram de ser afastados por conta da covid-19 do Hospital Geral de Guarulhos, no Cecap. Em tese, para cada paciente internado no hospital, um servidor é contaminado.
De acordo com a Secretaria de Saúde Estadual, todos equipamentos de proteção são fornecidos para os trabalhadores para evitar a contaminação.