Líderes da aldeia lutam por mais espaço social e preservação indígena
Guarulhos teve um aumento de 15% de indígenas entre 2010, com 1.434, e 2020, com 1.649 pessoas, segundo os Censos dos respectivos anos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A Aldeia Filhos Desta Terra, no Cabuçu, é a única na cidade, recebe ajuda dos órgãos governamentais, mas ainda precisa de muito auxílio.
De acordo com o Censo de 2022, Guarulhos tem a segunda maior população indígena do Estado de São Paulo, atrás apenas da capital paulista (19.777 pessoas), e à frente de Campinas (1.569), São Bernardo do Campo (1.300) e Sorocaba (794). Os indígenas guarulhenses são das etnias Wassu-Cocal, Tupi, Kaimbé, Pankararu, Pankararé, Kariri-Xocó, Kiriri, Xucuru Kariri e Guajajara.
A aldeia tem menos de 100 habitantes. Ou seja, a maior parte da população indígena de Guarulhos vive fora da aldeia. Na área da saúde existe um atendimento diferenciado para a população indígena, contudo, a estimativa é que há apenas 30% dos profissionais necessários. Os moradores da aldeia desejam a construção de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) dentro da reserva. Atualmente, a UNIFESP oferece treinamento aos profissionais para que possam atender os indígenas com mais preparo.
Testemunho
Vanuza Kaimbé é assessora indígena, assistente social, palestrante, ativista e foi a primeira indígena a ser vacinada contra a covid-19 no Brasil. Mesmo exercendo um seu trabalho em Guarulhos, Vanuza é de origem baiana, mais precisamente sendo da etnia Kaimbé, proveniente do município de Euclides da Cunha, na Bahia, sendo a segunda aldeia mais antiga do estado. Ela vive no Estado de São Paulo há 40 anos, sendo os últimos oito anos em Guarulhos. Além de representante indígena, ela também é técnica em enfermagem formada pela PUC-SP e veio para Guarulhos com o objetivo de retomar a luta por políticas públicas de moradia.
A necessidade dessa luta para que seus filhos e netos pudessem permanecer na cultura indígena, foi um dos seus alicerces para assumir essa jornada. Além de Vanuza, outros representantes e defensores dos direitos indígenas brasileiros vivem migrando de um local para outro, sem deixarem de ser indígenas. Seja por motivos de saúde, acesso a emprego, ou busca por aldeias, seguem carregando sua identidade. A maioria dos territórios indígenas no Brasil ainda não é demarcada, sendo constante a luta pela demarcação dos cerca de 900 territórios existentes. Por isso, é comum a migração para São Paulo.
Em Guarulhos, há apenas uma aldeia: a Aldeia Multiétnica Filhos da Terra, situada na região do Cabuçu, que acabou se dividindo com o grupo Wassu Cocal, de origem alagoana. Eles ocuparam uma parte do espaço e passaram a viver de forma mais individualizada, e não coletiva. Na aldeia, são mantidos muitos hábitos tradicionais. O local onde está situada a aldeia era anteriormente um lixão e ainda está contaminado. Mesmo assim, são plantados alimentos como mandioca e banana. Com eles, são feitos pelos habitantes comidas, como cuscuz e chás tradicionais. A alimentação deles tem como base milho, batata, peixe e outros alimentos típicos.
“Não há mal atendimento pelas secretarias de Igualdade Racial, Cultura e Saúde. Possuímos um bom relacionamento com esses órgãos e, sempre que fazemos solicitações, somos atendidos”, afirmou Vanuza.
Os moradores da aldeia desejam ampliar o espaço da aldeia, cultivar alimentos específicos e desenvolver o turismo indígena em Guarulhos, mas ainda faltam recursos para essas metas. Eles avaliam que podem oferecer ao restante da população vivências culturais com os povos tradicionais e mostrar a natureza local, de forma respeitosa e educativa.
“Agora mesmo, teremos mais uma edição do Agosto Indígena, e a Secretaria de Cultura estará presente. A Prefeitura costuma participar. Já estamos na 17ª edição do evento. Sobre a Aldeia Filhos Desta Terra, a população indígena não aumentou significativamente porque há muita migração. Muitos indígenas vão e voltam de suas aldeias de origem, ou para as aldeias de seus pais e avós “, explicou Vanuza.
De acordo com a ativista, o objetivo não é transformar a aldeia em um espaço de hospedagem, mas receber estudantes e visitantes para experiências diurnas para que depois retornem aos seus territórios, com a intenção de mostrar a cultura e fomentar o respeito pelas diferenças.
Vale citar que o nome de Guarulhos surgiu por conta dos povos originários, os chamados índios Guarus, que viviam nessa gerião por volta de 1555. Especialistas na área apontam também, antes da vinda dos portugueses, a presença da população indígena maromomi.