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“Não é só uma gripezinha”, diz marido de servidora da saúde vítima de covid-19

"Não é só uma gripezinha", diz marido de servidora da saúde vítima de covid-19

Sérgio e a esposa Susie, uma união de mais de 20 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Primeiro teste de Susie Darling Figueiredo deu negativo para o coronavírus. Sintomas continuaram e confirmação ocorreu durante internação, com mais de 80% do pulmão comprometido

No dia 27 de maio, a gerente do Centro de Atendimento Multiprofissional à Pessoa com Deficiência, Susie Darling Figueiredo, de 45 anos, veio a óbito em decorrência da covid-19. Ela não é só um número. Assim como as quase 60 mil pessoas que compõem as estatísticas das vítimas da doença, Susie também tinha uma família, amigos, marido e filhos que ficaram com saudade da pessoa que fazia parte de suas rotinas.

Em entrevista ao GRU Diário, o marido de Susie, o professor Sérgio Roberto Giglio, 52 anos, afirmou que não se trata apenas de uma gripezinha, como a doença foi tratada inicialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) e disse que sua indignação é tanto com os políticos, em todos os níveis, e até com o cidadão, que muitas vezes ignora o uso de máscaras.

“Um presidente que fala é só uma gripezinha, que fala que foi um atleta, e nunca foi, foi um paraquedista, fala isto porque nunca pegou a (covid-19) na garganta dele”, desabafou Giglio.

Ele contou que sua esposa começou a apresentar os sintomas da covid-19 e ficou 14 dias afastada do serviço do público. Ela fazia parte do grupo de risco, com diabetes e pressão alta. O primeiro teste que Susie fez deu negativo, mas boa parte dos sintomas continuaram.

Ela chegou a ser afastada do serviço no primeiro decreto de quarentena, em março, mas teve de retornar um mês depois, quando a Prefeitura decidiu que servidores da Saúde teriam de trabalhar para evitar um colapso na rede municipal.

Dois dias após retornar ao trabalho, Susie teve de ser internada no Hospital Padre Bento, no Gopouva, e no segundo dia, ela estava bem, lúcida, até que teve de ser entubada. “Lembro que estava segurando a mão dela quando a enfermeira me contou que ela estava com covid. O pulmão já estava 85% tomado, mas eu acreditei que haveria uma recuperação”, contou o marido.

Giglio não poupou elogio aos profissionais do hospital Padre Bento, mas ressaltou que com tantas pessoas doentes ainda é necessário estar preparado para atender um número ainda maior.

De acordo com ele, a desmontagem de hospitais de campanhas, como ocorre em São Paulo, destoa do momento ideal. “A gente está vendo que a situação não é boa, se as coisas continuarem deste jeito e os números aumentarem como vamos dar conta de atender estas pessoas”, criticou Giglio.

“Eu não vejo nenhum prefeito, nem de Guarulhos, nem de São Paulo, nenhum político visitando UTI para ver como está a situação dos pacientes”, disse Sergio.

Mas de acordo com ele, mesmo a população descumpre a sua parte. “Foi preciso a minha esposa falecer para que algumas pessoas, como um comércio aqui da rua que chegou até a fazer churrasco, decidir aderir ao isolamento social de vez”, comentou Sergio, morador do bairro Parque Continental 2. “Quando eu vejo uma pessoa sem máscara me bate um desespero”, afirmou.

Sérgio e Susie tiveram um casamento que durou 22 anos e resultou em dois filhos, um de 20 e outro de 16 anos. “Foi um choque muito grande, porque ela tinha 45 anos, trabalhava demais, era uma pessoa maravilhosa”, lembrou o marido.

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